A Dama de Ferro

By on 02/04/2014

Sinopse: Antes de se posicionar e adquirir o status de verdadeira dama de ferro na mais alta esfera do poder britânico, Margaret Thatcher (Meryl Streep) teve que enfrentar vários preconceitos na função de primeiro-ministra do Reino Unido em um mundo até então dominado por homens. Durante a recessão econôminica causada pela crise do petróleo no fim da década de 70, a líder política tomou medidas impopulares, visando a recuperação do país. Seu grande teste, entretanto, foi quando o Reino Unido entrou em conflito com a Argentina na conhecida e polêmica Guerra das Malvinas.

Crítica: Margaret Thatcher é um símbolo político, independente de nossas convicções. A mulher que quebrou tabus, governou o Reino Unido com pulso forte por 11 anos e bem ou mal, manteve seu país como uma das principais potências mundiais. Nem tudo foram flores durante esse tempo e a Dama de Ferro sofreu críticas e apoio de todos os lados. Phyllida Lloyd consegue passar essa sensação em seu filme, mas falha em quase todo o resto, construindo uma trama frágil que só se salva pela fenomenal performance de Meryl Streep.

A escolha de Lloyd e da roteirista Abi Morgan incomodou a família e tem uma certa razão, afinal, boa parte do filme se sustenta na situação atual da ex-primeira-ministra, que encontra-se doente em casa, conversando com seu finado marido e incapaz de discernir muita coisa. Em nenhum momento, o filme ridiculariza sua imagem, é verdade, mostra o quão forte foi aquela mulher e o quanto ela mudou na política de seu país. Mas, a escolha acaba transformando A Dama de Ferro em um filme nostálgico, sobre a jornada frágil de um ser humano que pode ter sido tudo, mas sempre se rende à velhice e suas fragilidades. O foco acaba sendo esse, o que foi essa mulher e no que ela se transformou. Sua dor, sua solidão, a pena e sofrimento daqueles que o cercam. A primeira-ministra, a Inglaterra e a História ficam completamente em segundo lugar.

a-dama-de-ferro-2A escolha de começar pelo fim e construir o roteiro nas lembranças da velha Thatcher servem apenas para uma coisa, deixar Meryl Streep brilhar por mais tempo. A construção corporal da atriz, a dificuldade de se movimentar, os problemas de lapso de memória, os traços senis, tudo é composto de uma maneira única e impressionam. O sotaque britânico é outro mérito da atriz, assim como a diferença de entonação de voz no início da carreira e depois dos exercícios vocais. É incrível perceber as nuanças que Streep constrói em cada detalhe de sua interpretação. Começar pelo fim nos deixa mais próximos dessa mulher e dessa atriz, assim não nos importamos quando Alexandra Roach aparece na tela interpretando a jovem Margaret, por exemplo, esperando pacientemente que Meryl Streep volte a campo. Se o roteiro fosse linear, por exemplo, teríamos que esperar bastante até poder apreciar a estrela maior do filme.

No entanto, nessa preocupação com a mulher por trás do cargo, e principalmente a mulher em sua situação atual, doente e solitária, diretora e roteirista esquecem de conduzir a história, tornando A Dama de Ferro um filme para inglês ver. E inglês que saiba um pouco sobre os acontecimentos nas décadas de 70, 80 e 90 de seu país. O filme passa para nós como flashs. Os flashs de memória da velha Thatcher, sem muitas explicações, sem muitos detalhes, são momentos pontuais, jogados na tela de uma forma quase desleixada. Isso prejudica a apreciação do espectador comum que só ouviu falar de algumas dessas crises e discussões parlamentares por alto nas notícias internacionais.

a-dama-de-ferroPhyllida Lloyd, no entanto, parece mais preocupada em nos passar um contraste de uma mulher em um mundo masculino do que uma aula de história propriamente dita. E é uma escolha válida, só que poderia nos deixar um pouco mais contextualizados. A todo momento ela constrói imagens que demonstram o peixe fora d´água que Margaret Thatcher parece aos olhos alheios. Como um travelling pelos pés dos parlamentares prestes a entrar no trabalho, todos com calças e sapatos masculinos e um salto alto perdido entre eles. Ou uma câmera de cima, mostrando os ternos pretos e o vestido azul com chapeuzinho parecendo um ponto estranho andando no meio. Há ainda a preparação para se tornar a líder dos conservadores e assim, primeira-ministra, e sua posição no centro daqueles homens, sempre forte e decidida. Isso sem falar no bom plano dela em contra-luz de braços abertos, comemorando a vitória nas eleições e o discurso pós posse, onde um plongée a mostra no centro das discussões.

Phyllida Lloyd e Abi Morgan também pecam em não se posicionar, ou melhor, em não dar subsídios para o público se posicionar politicamente. Os assuntos são jogados na tela sem muita força, a montagem junta momentos em que o povo britânico ama e odeia Margaret Thatcher em um jogo não muito claro. Além de transformar o partido liberal em um simples joguete dos conservadores, criticando a mulher de voz fina e depois se calando quando ela se apresenta a impostar a voz. Não há informações de porque o IRA cometeu um atentado a sua vida, por exemplo. Ou porque o partido começou um complô para tirá-la da liderança, nem sua admiração bastante criticada por Ronald Reagan. Isso aliás, se resumiu a uma lamentável cena de dança em meio a tantos flashbacks.

A Dama de Ferro é um filme que não funciona. Possui um roteiro confuso com escolhas de direção questionáveis, tornando tudo um emaranhado de informações frouxas. Uma pena, poderia ter muito mais nesse imenso balaio. Seu valor está mesmo na interpretação de uma grande atriz, que se preparou como nunca para um papel tão difícil. Talvez fosse melhor vê-la em um monólogo sobre essa controversa personagem da nossa história recente.

A Dama de Ferro (The Iron Lady: 2012 / Reino Unido)

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Com: Meryl Streep, Jim Broadbent, Richard E. Grant, Anthony Head.
Direção: Phyllida Lloyd.
Duração: 105 min.
Gênero: Drama.
Roteiro: Abi Morgan.

 

 

 

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