Mãe pós-moderna
Adeus Marias, Amélias, Joanas e Teresas. Mulher pós-moderna tem nome de novela: Tatiana, Juliana, Gisele, Carolina e Graziela. Pais que se prezam escolhem nomes a dedo. Quando não escolhem, a mídia sugere, é bem mais fácil e chique. Será que a mãe de verdade é um ser em extinção?
Pós-modernidade é isso: o número de filhos diminui, o de “morar juntos” aumenta, o de divórcios cresce assustadoramente e o nível de tolerância nos relacionamentos vai além do chão. Casa-se já pensando na possibilidade de se separar. Separa-se já pensando na possibilidade de ser feliz com o próximo.
Conheço pessoas que estão na sexta tentativa de encontrar a alma gêmea. Deixam filhos por onde passam. Uma miscelânea de irmãos, filhos de pais e mães e irmãos de irmãos pela metade. Pós-modernidade, me diz um amigo, estudioso do assunto. Fácil de entender, difícil de aceitar.
Casamento na pós-modernidade tem outro nome: união estável, cada vez mais instável, já que paciência e tolerância, essenciais para a convivência a dois, são virtudes escassas no mundo de hoje, onde os relacionamentos são substituídos com facilidade pela incerteza da felicidade futura.
E a mãe, onde entra nisso? A maioria permanece lutando para sobreviver, se tornar independente, criar os filhos com dignidade, mesmo sem o companheiro. Apesar da sobrecarga, ela continua cumprindo rigorosamente três turnos: trabalha de dia, cuida dos filhos à noite e dos instintos mais primitivos na sequência.
Mães pós-modernas são mais arrojadas. Produção e criação independente. Adoção, se necessário. O tempo passa, o instinto materno permanece. O sonho de ser mãe ainda resiste, mesmo em tempos difíceis.
Tenho pensado muito na minha. Digo sempre que ela vai para o céu com tripa e tudo. Depois de muitos anos longe de casa, ela ainda extravasa nos cuidados e esquece que eu não tenho mais oito anos nem setenta quilos. Difícil sair de casa com o mesmo peso da chegada.
De vez em quando, dá vontade de passar a cinta na velhinha, mas eu relevo. Não há o que pague o que ela passou por mim. De pós-moderna não tem nada. Setenta anos de Amélia, sozinha, lutando pelos mesmos princípios e valores, preocupada com os filhos já crescidos, esfolando os joelhos em oração.
A relação entre mães e filhos é, no mínimo, curiosa. Demoramos a sentir saudades do pai, mas não resistimos às saudades da mãe. Respondemos, retrucamos e, por vezes, até ofendemos, mas o sentimento de remorso é automático. A sensação de culpa não cessa enquanto as desculpas não afloram.
Uma coisa é certa: antiga, moderna ou pós-moderna, amor de mãe não tem preço. Elas são capazes de suportar toda ingratidão para não destruir o vínculo materno. E continuam querendo o bem dos filhos, apesar do descaso, da falta de consideração e do distanciamento provocado pelos atropelos da pós-modernidade.
Mãe deveria ser empalhada para ficar ali do nosso lado à espera da próxima dor de barriga, da próxima lágrima, da próxima pisada na bola, com aquele olhar singelo e repreensivo ao mesmo tempo, como quem diz: não tenha medo, meu filho, a mãe tá por aqui.
Dia das mães é todo dia, portanto, nunca espere o dia das mães para entregar o presente. O maior presente que você pode oferecer a ela é amor, consideração e respeito todos os dias, pelo menos um pouco por dia, durante os dias em que você ainda tiver o privilégio de tê-la do seu lado pegando no seu pé.
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