Mulheres empreendedoras
Mulheres empreendedoras abririam mão do próprio relacionamento em função da carreira, revela SPC Brasil.
Pesquisa inédita traça perfil da empresária brasileira. Maioria divide as contas da casa, mas 47% das empreendedoras ainda são as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas.
Dedicando-se cada vez mais à carreira profissional, as mulheres estão mais seguras de si quando o assunto é mercado de trabalho. Um estudo inédito realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais mostra a determinação de boa parte das mulheres empreendedoras de abrir mão do relacionamento afetivo caso ele se torne uma barreira ao seu sucesso profissional.
Mais de um terço (36%) das empresárias casadas admitiram à pesquisa que abririam mão do relacionamento conjugal caso o marido ou companheiro dissesse: “ou eu ou o trabalho”. Outras 40% das entrevistadas afirmaram que precisariam pensar mais a respeito antes de tomar uma decisão – não descartando a possibilidade de romper com o relacionamento– e somente 25% das mulheres afirmaram que com certeza abririam mão do trabalho.
Na avaliação da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, a convicção detectada pelo estudo está diretamente ligada à maior participação das mulheres no mercado de trabalho, inclusive a frente de negócios. “Ainda que haja uma defasagem histórica na remuneração das mulheres na comparação com homens, é perceptível uma maior inserção delas nas atividades fora do lar”, afirma a economista.
Em relação ao estado civil, destaca-se que quase a metade das entrevistadas (44%) não possui cônjuge, o que reforça o perfil de autonomia na vida pessoal e profissional entre as empreendedoras solteiras.
Acúmulo de responsabilidades
Entre as casadas ou que vivem em união estável, 70% disseram ter participação total ou parcial no pagamento das contas da casa, sendo que dessas, 14% se responsabilizam sozinhas pelo pagamento das despesas e 56% dividem os custos com o marido. “Esse alto percentual é um exemplo prático da participação marcante da mulher nas finanças da família, reforçando o perfil de autonomia e maior independência econômica por parte delas”, destaca a economista Luiza Rodrigues.
Mesmo atuando fora de casa com o negócio próprio, as mulheres empreendedoras não abandonaram as atividades domésticas. O levantamento indica que em 47% dos casos elas são as únicas responsáveis pelas tarefas do lar, como cuidar dos filhos, lavar, passar e cozinhar. O percentual é maior entre as empreendedoras cujo negócio é informal (58%).
“A pesquisa mostra que a ampliação de oportunidades no mercado de trabalho entre as mulheres não foi acompanhada por uma nova divisão de responsabilidades domésticas entre os gêneros. Novos papéis foram incorporados à rotina da mulher sem que ela deixasse de ser cobrada pelas funções tradicionais de ser boa mãe, boa dona de casa e boa esposa”, conclui a economista Luiza Rodrigues.
Além de acumularem funções da carreira com as atividades domésticas, quase a metade (49%) das empreendedoras dedicam mais tempo à profissão do que um trabalhador assalariado formal, ou seja, trabalham mais de oito horas por dia. Some-se a isso o fato de que quatro em cada dez (37%) não tiram férias, fator que torna a jornada de trabalho ainda mais pesada para as mulheres empreendedoras.
Sem culpa
Assumindo grandes responsabilidades dentro do ambiente familiar, mais da metade (55%) das empreendedoras disseram que não foi necessário abrir mão de nada para se tornarem empresárias e que, portanto, conseguem equilibrar o tempo entre a vida familiar e a profissional. 33% confessaram terem renunciado aos próprios momentos de lazer e 21% tiveram de abrir mão do tempo que dedicavam à família.
Um indicativo de que elas estão bem resolvidas quanto à conciliação de tarefas é que 78% das entrevistadas afirmaram que não se sentem culpadas pela divisão do tempo entre a atividade profissional e a familiar.
Indagadas se conseguem flexibilizar seu horário de trabalho para realizar atividades pessoais, como ir ao médico, levar os filhos para a escola ou frequentar academia, 83% das entrevistadas alegaram que sim. “A ausência de culpa pelas decisões tomadas é explicada pelo fato de que as empreendedoras são multitarefas e conseguem desempenhar várias funções com o mesmo empenho”, explica a economista Luiza Rodrigues. Além disso, sete em cada dez (67%) empreendedoras afirmaram que não se sentem diminuídas, vítimas de preconceito ou prejudicadas na condição de mulher a frente de um negócio.
Quando confrontadas com a situação hipotética de abandonar o negócio próprio em troca de um emprego fixo, com carteira assinada, trabalhando oito horas por dia e ganhando o mesmo que obtém hoje, apenas 14% admitiram que aceitariam a proposta contra 72% das que preferem continuar com o atual negócio.
“A flexibilidade e a possibilidade de crescimento profissional ajuda a explicar o fato dessas mulheres não quererem abrir mão da condição de empreendedora”, explica a economista Luiza Rodrigues.
Perfil otimista
De acordo com as empreendedoras entrevistadas, fatores como persistência (40%), confiança (20%), ousadia (16%) e talento (14%) foram os que mais contribuíram para as suas conquistas profissionais como empresárias. Além disso, características como organização (67%), flexibilidade (43%) e calma (42%) são consideradas as mais marcantes de suas personalidades.
Para os especialistas do SPC Brasil, as empreendedoras são, geralmente, mais detalhistas e sensitivas, características que aliadas à determinação e iniciativa, podem contribuir para uma melhor gestão do negócio. Nesse sentido, o levantamento identificou que quatro em cada dez (43%) empreendedoras admitiram que costumam usar a intuição para tomar decisões importantes no negócio.
Um exemplo dessa sensibilidade aguçada é que mais de um terço das mulheres (35%) escolherem o ramo de atividade da empresa que abriram baseando-se apenas na percepção de que possuem aptidão para o negócio. O percentual é maior entre as mulheres que atuam no segmento de serviços (41%) e são informais (53%).
“Hoje, as mulheres não empreendem apenas para complementar a renda da família ou como passatempo. Cada vez mais, elas abrem empresas por identificarem uma oportunidade de mercado e que, geralmente, tendem a ser em algum segmento pelo qual são apaixonadas. Isso demonstra um perfil arrojado, desbravador e aventureiro das mulheres”, explica a economista Luiza Rodrigues.
Embora historicamente as mulheres registrem em média mais anos de estudo em relação aos homens, a pesquisa mostrou que somente um quarto (25%) das empreendedoras aprendeu as habilidades necessárias no seu negócio fazendo cursos. A maior parte (36%) afirmou ter desenvolvido as habilidades na prática, ou seja, sozinhas. O percentual é maior entre as que atuam no segmento do comércio (41%).
Pensando no futuro
Mesmo com as dificuldades enfrentadas em decorrência da dupla jornada, as empreendedoras dão a nota média geral de 8,6 em termos de satisfação com a atividade profissional. O índice é semelhante em todos os perfis pesquisados.
Como reflexo dessa plena satisfação, o levantamento também identificou que as mulheres estão otimistas em relação ao futuro dos seus empreendimentos. Dentre as entrevistas, 95% acreditam que conquistarão mais clientes pelos próximos dois anos e pelo menos 70% demonstram interesse em investir na melhoria da infraestrutura do atual negócio.
“Os resultados demonstram que a mulher empreendedora tem plena consciência de sua função à frente do próprio negócio e encara isso com elevado grau de autoestima e confiança no seu potencial de empreendedora. Mais do que uma oportunidade profissional, o estudo mostra que para essas mulheres ser empreendedora significa uma opção de vida e a busca por uma realização pessoal”, explica a economista Luiza Rodrigues.
Metodologia
Realizada como parte das comemorações ao Dia Internacional da Mulher, a pesquisa entrevistou, pessoalmente, 601 mulheres donas de algum empreendimento do ramo de serviços ou comércio nas 27 capitais brasileiras. A margem de erro é de no máximo 4,00 pontos percentuais.
Fonte: SPC Brasil – https://www.spcbrasil.org.br/
0 comments