Marlene Ortega

By on 15/04/2014

10 Perguntas para Marlene Ortega

Em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, o HSM Online traz neste dia 8 de março uma entrevista especial com Marlene Ortega, presidente da Business Professional Women (BPW) São Paulo. Em seu mandato na BPW, Marlene está cuidando de temas como aperfeiçoamento profissional, promoção das mulheres à margem do mercado de trabalho e troca de experiências e negócios.

Abaixo você confere as 10 melhores perguntas enviadas por nossos internautas.

1 – Como as executivas podem ser inovadoras e empreendedoras perante modelos de gestão construídos pela visão masculina de negócios? (Maristela Guimarães André, Consultora do Instituto KVT Desenvolvimento da Consciência Empresarial)

Marlene Ortega: O século XXI será marcado por uma diversidade inédita no ambiente empresarial. Em função da transição da força bruta para o conhecimento como o principal ativo nas organizações, multiplicaram-se as possibilidades de atuação dos idosos, jovens e mulheres. Vale destacar que a mulher é a face mais visível dessa diversidade. Os talentos femininos são associados à colaboratividade e menor hierarquização nos relacionamentos. Exatamente o oposto do modelo masculino que privilegia a competitividade e o estilo de comando e controle. Até pela função no microcosmo familiar, a mulher consegue compreender os apelos de visão no longo prazo. As mães sempre exercitaram projetar o futuro de seus filhos e por isso pensam nos impactos de suas decisões, com mais foco nas dimensões socioambientais do que apenas nos benefícios específicos de resultados financeiros de curto prazo.

2 – A senhora acredita realmente na igualdade entre os sexos, ou pensa que devemos sempre ter ressalvas e analisar os perfis, cultura e função a serem desenvolvidos antes da tomada de decisão de contratação ou promoção? (Henri Fernandes Cardim, da HFC consultoria & associados)

MO – Acredito que nada deve ser feito sem o cuidado de uma análise consciente sobre os diferentes fatores que podem influenciar o sucesso de uma contratação. As empresas vivem de fato um momento intenso de mudanças, em ritmo acelerado. Estamos passando pela transição dos velhos modelos que guiaram os negócios no século XX para novos paradigmas que surgiram, principalmente após a crise que marcou o final de 2008 e o ano de 2009.

Assim, é preciso saber em que ponto desse gradiente de mudanças cada empresa se encontra. Existem organizações que estão fazendo um excelente trabalho de conscientização sobre as mudanças enquanto outras ainda ficam apenas no discurso intelectual sobre a diversidade.

Se considerarmos dados recentes, podemos afirmar que as mulheres estão se afirmando em vários setores, em ocupações que foram muito masculinas. Por exemplo, a mão de obra feminina no setor metalúrgico cresceu 96% em uma década, representando 16,4% da força de trabalho atual de acordo com dados do – IBGE/DIEESE. A previsão é de que em 2020 haverá mais mulheres empregadas do que homens.

São essas evidências que levam a acreditar que as diferenças entre os sexos estão realmente diminuindo e que somente a parceria homem mulher poderá ajudar a solucionar os grandes problemas da agenda Global como a desnutrição, a redução do analfabetismo, e a melhoria dos cuidados básicos com a saúde das populações pobres.

3 – Sabemos que no Brasil a legislação tem uma licença maternidade de 6 meses. A senhora acredita que em países onde os encargos trabalhistas são altos, como aqui, isso pode prejudicar as mulheres reduzindo sua competitividade no mercado de trabalho? (Henri Fernandes Cardim, da HFC consultoria & associados)

MO – Toda conquista acontece aos poucos. Nesse momento acredito que este benefício para as mulheres possa sim interferir em maior ou menor grau em processos de contratação e promoção. Com os avanços relacionados à flexibilização de horários, trabalhos remotos no sistema Home Office, poderemos enxergar o papel do trabalhador mais em função de seus resultados do que de sua presença física na empresa. São mudanças de paradigmas que devem ajudar na compreensão das novas propostas, como esta citada, que visa o equilíbrio do ser humano no trabalho e na família.

4- Como a senhora avalia ou percebe a forma de fazer gestão das jovens executivas nascidas entre 1980 e 1990 e seus efeitos sobre a gestão das equipes? Uma pesquisa realizada pelo grupo Foco em 2008/2009 revelou que 25% dos cargos de chefia, hoje, são ocupados por pessoas dessa geração. (Jorge Gomes, professor de Liderança do Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing no Recife)

MO – Os jovens entram cada vez mais cedo no mercado de trabalho e trazem para o ambiente corporativo a demanda por um novo perfil de liderança. Quando assumem a liderança, mostram ousadia, competitividade e a capacidade empreendedora. As mulheres estão chegando aos postos de alto comando, tornando-se CEO de organizações quatro antes do que a idade média dos homens. Isso significa que elas estarão por mais tempo no exercício da liderança. Essas mulheres são bem vistas pelos demais jovens como líderes mais apropriadas, mais focadas na colaboração, na qualidade de vida, na flexibilidade de horários. Normalmente são mulheres que sabem exatamente o que querem, buscam a independência financeira e valorizam os relacionamentos. Essas jovens líderes devem promover um modelo de gestão baseado em resultados mais balanceados entre o curto e o longo prazo, o que atenderá às atuais demandas corporativas.

5 – O que a BPW como instituição que atua em 100 países está fazendo diante dos problemas que estamos enfrentando com o meio ambiente? O papel da BPW no Haiti está surgindo efeitos? Se sim, qual o mais importante? (Jhonyandrey Gonçalves Pinto, da Belsat Equipamentos Eletrônicos LTDA)

MO – A BPW (Business Professional Women) é uma entidade internacional com 80 anos de existência. Sua missão é promover a aquisição de poder para a mulher. Com assento consultivo na ONU, a instituição participa anualmente da Conferência Internacional do Status da Mulher, lutando para eliminar a violência contra a mulher e promover ações que permitam ampliar a participação da mulher nas esferas pública e privada. Internacionalmente a BPW desenvolve uma força tarefa de paz reconhecendo a mulher como um ser construtor da paz. O foco para 2010 na BPW-SP é o desenvolvimento da liderança feminina. A diretriz principal é oferecer conhecimentos, relacionamentos e oportunidades para que a mulher desenvolva seu potencial empreendedor e suas características de liderança de maneira a contribuir com o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade.

6 – Quais são os erros mais cometidos pelas mulheres na busca pela ascensão na carreira e o que elas podem fazer para evitá-los? (Ana Carolina Gomiero, do laboratório Roche)

MO – Algumas mulheres são ambiciosas, mas não apresentam o espírito guerreiro necessário para acumular conquistas no ambiente empresarial. Elas querem o poder, mas quando sentem a pressão das responsabilidades dos cargos de liderança, refugiam-se no antigo conceito da mulher discriminada e frágil. Algumas querem ser guerreiras, mas acabam voltando a usar o sapatinho da Cinderela. As mulheres que sabem exatamente o que desejam, avançam e não fazem da condição feminina seu “cavalo de tróia”. Outra postura que considero inadequada é a da mulher que reconhece somente a sua dificuldade para balancear a carreira e a família. Os homens também vivenciam a culpa por não verem seus filhos crescerem, sentem que o estresse está acima do nível aceitável, enfrentam a deslealdade dos colegas e superiores. Enfim, lutam para equilibrar-se no difícil mundo dos negócios. Nem tudo são flores para os homens e espinhos para as mulheres. Vale ainda considerar que não podemos responsabilizar apenas os homens pela discriminação das mulheres, principalmente aquelas em postos de liderança. Mulheres também discriminam as lideranças femininas e isso não ajuda em nada nos avanços da diversidade ou promoção da equidade de gêneros.

7 – Sabe-se que o capital intelectual é o diferencial para as organizações, por utilizar o conhecimento de seus colaboradores para atingir objetivos. Em sua administração, como trabalha para compreender e estruturar o conhecimento de tantas funcionárias e assim, ter um melhor aproveitamento de suas qualidades? (Daiane Borges)

MO – Em pesquisa realizada pela HSM com 1065 executivos, 46% dos respondentes acreditam em potencial de crescimento acima de 10% em 2010. Quando perguntados sobre a capacidade de liderar esse crescimento, os executivos mudaram a postura otimista e mostraram grande preocupação com a falta de lideranças, quer em quantidade, quer em qualidade.

Constata-se a falta de pessoas competentes e comprometidas com os negócios e em conseqüência disso passamos a adotar a expressão “apagão de talentos”. Se olharmos por esse prisma veremos que seria estúpido desprezar os talentos existentes em nossas empresas, sejam eles homens ou mulheres. Não há dúvida de que o mundo e as empresas estão mudando. E não podemos mais deixar de aproveitar as diferentes habilidades que podem reforçar nossa capacidade competitiva. As empresas precisam mais do que nunca conhecer a sua demografia interna e mapear os talentos espalhados por seus departamentos. Os líderes mais capacitados não serão tolos ao ponto de desperdiçar um talento em meio à guerra em busca deles.

8 – Diante da afirmação de que os empregos formais irão acabar, qual a perspectiva para a mulher no mercado de trabalho? (Bárbara Moraes, psicóloga, especialista em Gestão de Pessoas e docente)

MO – Dizem que nascerá uma nova profissão no mercado, a de desempregado.
A onda de fusões e aquisições, a concentração de mercado em segmentos diversos permite realizar as famosas “sinergias” que acabam por gerar redução ao redor de 30% na força de trabalho da empresa. Mesmo diante do cenário ameaçador a mulher vem dando demonstração de que possui as qualidades necessárias para liderar essas mudanças

9 – Além da competência de se estabelecer nos cargos antes ocupados pelos homens, quais ferramentas poderíamos desenvolver para diminuir a velha questão da diferença de sexo nas organizações? (Augusto Amato Junior, da Mocoplast – Mococa)

MO – Diálogo. Para acompanhar o ritmo das mudanças recomenda-se que façamos constantes revisões de conceitos. E os indivíduos somente aceitam o novo se compreenderem o seu significado. Assim as empresas precisam promover a informação e permitir que haja um debate entre os colaboradores no ambiente da empresa. Cabe principalmente ao Recursos Humanos essa árdua tarefa de organizar ações contínuas que desenvolvam o aprendizado coletivo.

10 – A maioria das comunicações feitas no dia 8 de março visa demonstrar que a mulher tem se destacado muito na sociedade, mas a situação só acontece em grandes corporações. Como explicar que fora dos centros comerciais as mulheres ainda vivem como se estivessem à margem da sociedade econômica? (Eduardo Bittar, Recursos Humanos da Real Moto Peças)

MO – Sempre repito que estamos em meio a uma fase de transição e nessa jornada encontramos pessoas e empresas em diferentes estágios de mudança. Realmente podemos retratar tanto a mulher que vem alcançando postos de comando nas empresas, totalmente independentes e donas de seu destino, como também podemos retratar a violência contra a mulher como a pior diferença entre os sexos. A cada 15 segundos uma mulher é espancada pelo marido ou companheiro no Brasil de acordo com dados da Fundação Perseu Abramo (2002).

Outra estatística dá conta de que aumenta o número de mulheres que auto-declaram ter sofrido violência doméstica e/ou familiar. (DataSenado 2009). Esses contrastes são característicos de uma sociedade em desenvolvimento e iremos conviver com esse gradiente ainda por algum tempo.

Fonte: HSM Online

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