A Bela e a Fera

By on 22/09/2014

Sinopse: No ano de 1810 um naufrágio leva à falência um comerciante (André Dussollier), pai de três filhos e três filhas. A família se muda para o campo e Bela (Léa Seydoux), a filha mais jovem, parece ser a única entusiasmada com a vida rural. Certo dia o pai de Bela arranca uma rosa do jardim de um palácio encantado e acaba condenado à morte pelo dono do castelo, um monstro (Vincent Cassel). Para salvar a vida do pai, Bela vai viver com o estranho ser. Lá ela encontra uma vida cheia de luxo, magia e tristeza, e aos poucos descobre mais sobre o passado da Fera, que se sente cada vez mais atraída pela jovem moça.

Crítica: Muitas versões já existiram sobre A Bela e A Fera. Esta nova produção francesa poderia ser apenas mais uma, mas ela traz elementos extras que tornam a trama mais densa e até próxima da realidade. Ainda que continue fantasia. E o mais interessante, a beleza aqui não é a questão principal.

O filme se passa no ano de 1810, e narra a trama de um comerciante que perde tudo em um naufrágio e se refugia no campo com seus seis filhos, três homens e três mulheres. A caçula da família, Bela, parece ser a mais simples e bem adaptada à vida simples. Tanto que quando vem a noticia de uma possível recuperação de bens, ela só quer uma rosa. E é tentando pegar essa rosa, que seu pai se torna prisioneiro de um estranho castelo. Bela, para não ser culpada pela morte do pai, toma o seu lugar e acaba conhecendo mais sobre o local e seu proprietário, uma assustadora fera.

a-bela-e-a-fera-03O roteiro escrito pelo próprio diretor Christophe Gans, junto a Sandra Vo-Anh, usa do conhecido recurso do narrador-personagem. Uma mãe conta a história a seus dois filhos para dormir. E esse recurso é uma forma fácil de cortar os momentos mais tensos para que as crianças possa acompanhar o filme. Em determinada cena, isso é explicitado com as crianças com os olhos arregalados e a mãe perguntando: posso continuar?

É um jogo fácil, até mesmo clichê, mas que funciona perfeitamente aqui, principalmente porque a voz de Léa Seydoux vai nos conduzindo com elegância por cima de uma fotografia impressionante. Há cenas belíssimas tanto no castelo, quanto na cidade, ou mesmo no campo. Os efeitos são bem construídos e as cores ressaltadas de uma maneira pouco vista no cinema francês.

Outro elemento que ajuda a tornar a história mais próxima das crianças é uma matilha de beagles, que aparecem nos flashbacks, e estranhas criaturinhas que se escondem pelo castelo no presente. A óbvia explicação da ligação entre os dois é um dos pontos fracos do roteiro. Mas, no geral, há bastante coerência e até algumas surpresas.

a-bela-e-a-fera-posterA maior de todas é que a beleza não chega a ser uma questão aqui. Não é por causa dela que a fera é condenada, nem mesmo é algo que ele tenha que aprender. A cobiça é a grande questão. Não apenas da fera, mas dos irmãos de Bela e de um grupo na cidade. O desespero pelo bem material é que permeia todo o filme, desde a falência do pai da protagonista.

Talvez seja uma questão mais cara a humanidade atual que a própria discussão do padrão de beleza. O que é interessante, mas tira um pouco da coerência do amor que surge entre a Fera e Bela. Primeiro, porque ele não chega a ser o gentleman que, apesar da aparência, conquista a mocinha. Segundo, porque a relação construída se torna muito rápida. E o recurso do sonho para justificar essa rapidez acaba não sendo tão convincente. Terceiro porque fica difícil de entender até que ponto a Fera também se apaixonou por Bela e o porquê disso. Era apenas um desespero pela salvação?

De qualquer maneira, A Bela e a Fera demonstra ser um filme interessante. Com boas atuações, um roteiro envolvente, uma fotografia cuidadosa e muitas questões a serem pensadas e discutidas. Uma bela surpresa.

http://www.youtube.com/watch?v=CREtSttdVqs

A Bela e a Fera (La belle et la bête, 2014 / França)
Com: Vincent Cassel, Léa Seydoux, André Dussollier.
Direção: Christophe Gans.
Duração: 112 min.
Gênero: Fantasia / Romance.
Roteiro: Christophe Gans e Sandra Vo-Anh.

amandaAmanda Aouad é Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA, especialista em Cinema pela UCSal e roteirista de Ponto de Interrogação, Cidade das Águas e Vira-latas. É ainda professora de audiovisual, tendo experiência como RTVC e assistente de direção. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos e da Liga dos Blogues Cinematográficos.

 

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