A Igualdade faz o Seu Gênero?

By on 06/07/2015

No sentido da unidade John Donne nos brindou com a constatação de que “nenhum homem é uma ilha isolada”. O fato é que somos todos contemporâneos de um mundo onde, queiramos ou não, nossas vidas estão implicadas. Cada um com sua personalidade, aptidões e desejos distintos tenta ocupar um espaço e fazer valer o direito de existir na medida do que considera ser o seu ideal de vida.

Mas, em pleno século XXI é difícil aceitar que as pessoas ainda sejam descriminadas em razão das suas características e preferências. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU/1948) proclama que “todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação”.

Em contraponto ao que deveria ser uma realidade, vivemos um cenário onde guerras santas, limpeza étnica, tráfico humano, trabalho escravo, assédios, bullying e uma vasta opção de descabidos revelam os tons do preconceito e personificam o eco das indiferenças, comprometendo a dignidade e o valor da condição humana.

Personalidades egóicas, em circunstâncias sociais e profissionais, que ainda precisam de um superlativo para coexistir, subtraem das relações humanas o senso do que é justo e ético em detrimento de um convívio honesto e pacífico. Propósitos autocentrados que impõem comportamentos individualistas e lideranças autocráticas, distantes do que deveria ser um caminho natural de trocas honestas entre os diferentes gêneros nas organizações.

Fala-se da inclusão como um valor da igualdade de direitos no âmbito do trabalho, através de oportunidades que beneficie a todos. Mas, como incluir subtraindo do outro o direito de existir na condição de ser como é? O quanto cada um de nós, consciente ou não, criticamos o outro, mas nos inserimos no mesmo contexto?

No processo de inclusão a igualdade deveria ser pré-requisito, pois está associada à necessidade que todo ser humano tem de conquistar melhores condições de vida e liberdade mais ampla para desenvolver suas potencialidades e ter garantido o direito de coexistir sem ser discriminado por suas diferenças.

Quanta angústia é vivida quando as pessoas trocam sua identidade pessoal por um crachá profissional onde a desigualdade é praticada como critério de excelência. Onde muitos assumem ser alguém distante de quem são para driblar preconceitos e tentar ser bem-sucedido, sem se dar conta de que ao renegar a si mesmo torna-se refém da própria existência.

Como falar do direito à existência sem legitimar ao outro seu direito de ser como é, ser por inteiro, ser integral?

Enquanto não dilatarmos a largura de banda mental para acolher o sentido de unidade e compreender as diferenças como valor de troca e a colaboração como ganho coletivo não haverá ambiente para uma coexistência pacífica. Sofreremos a competição desleal onde a cor da pele, a religião e a opção sexual, dentre outros, ainda contará como critério de diferenciação, distanciando-nos cada vez do que poderia ser um convívio ideal na consideração do que não é igual.

É preciso sensibilizar e capacitar as pessoas, principalmente as lideranças, de todas as áreas, sobre o ônus da desigualdade e a importância da perspectiva de igualdade de gênero em respeito às diferenças e preservação do capital humano nas organizações.

Descriminar o que não é igual leva à perda da integralidade. Deixamos de ser por inteiro. Quando não somos por inteiros perdemos a nossa identidade. Perdemos as nossas raízes, nossa cultura, o que nos dá referência e oferece sentido a nossa existência. Perdemos-nos de nós próprios e suprimimos do mundo a nossa história.

“… cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.” (John Donne)

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Waleska Farias
Coaching, Carreira e Imagem.

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