Amelia
Sinopse: Amelia Earhart (Hilary Swank) foi a primeira mulher a completar a travessia do oceano Atlântico pilotando um avião. Este feito fez com que se tornasse uma celebridade nos Estados Unidos, onde passou a ser chamada de “deusa da luz” devido a sua ousadia e carisma. Seu fascínio pelo perigo inspirou até mesmo a primeira dama Eleanor Roosevelt (Cherry Jones). Casada com George Putnam (Richard Gere), um magnata do mercado editorial, e tendo o piloto Gene Vidal (Ewan McGregor) como seu grande amigo, Amelia decide, em 1937, embarcar na mais arrojada de suas missões: dar a volta ao mundo em um voo solo.
Crítica: Amelia, a cinebiografia de Amelia Earhart, uma pioneira americana da aviação, uma Charles Lindbergh mulher (e feminista), é um filme muito bom. E é também mais uma prova de que a bilheteria de cinema é, assim como futebol, uma caixinha de surpresas.
Apesar de suas qualidades, e são muitas, o filme vem sendo um grande fracasso na bilheteria.
As qualidades começam na vida retratada no filme. Já anotei diversas vezes que nem sempre o fato de uma pessoa ter tido importância resulta em que o filme baseado na sua vida seja interessante. Há diversos casos de artistas importantes cujas vidas não têm drama e trama suficiente para render um bom filme.
Não é o caso de Amelia Earhart. Sua vida é riquíssima. Nascida no interior do Kansas, em 1897, foi a primeira mulher a fazer a travessia do Atlântico de avião, na segunda metade dos anos 20, e depois a primeira mulher a fazer essa viagem sozinha, entre vários outros recordes. Os livros que escreveu descrevendo suas aventuras foram grandes best-sellers. Foi membro do Partido Nacional das Mulheres e uma batalhadora pela Emenda dos Direitos Iguais; incentivou as mulheres a aprender a pilotar, foi uma das fundadoras da As Noventa e Nove, uma organização para mulheres pilotas. Ajudou a difundir a então nascente aviação comercial nos Estados Unidos e a criar as primeiras pontes-aéreas, entre Nova York e Washington e Nova York e Boston.
Teve ainda um rico e intenso casamento com um editor de livros – e ainda um caso com Gene Vidal, outro pioneiro da aviação americana e pai do grande escritor Gore Vidal.
Amelia Earhart era simplesmente – como define um personagem do filme – a mulher mais famosa dos Estados Unidos, nos anos 20 e 30.
Uma boa trama, um bom roteiro, uma diretora de sucesso
Com base em duas biografias sobre ela, Ronald Bass e Anna Hamilton Phelan escreveram um roteiro bem feito, interessante, bem à moda de muitos filmes do cinemão comercial recente, indo e voltando no tempo. A ação começa quando, em 1937, Amelia está saindo para sua mais ambiciosa aventura, à volta ao mundo num avião que levaria apenas a ela e um navegador. E depois volta atrás, para 1928, quando Amelia conhece George Putnam, sujeito rico, com boas conexões na alta sociedade nova-iorquina, dono da editora que havia publicado o relato do próprio Charles Lindbergh, o homem mais adorado da América, assim uma espécie de cruzamento de Pelé e Roberto Carlos numa pessoa só.
Através desses seus contatos, Putnam – marqueteiro inteligente, esperto, antes que a humanidade soubesse o que é marketing – vai financiar a primeira viagem transatlântica de Amelia. Em seguida, vai publicar seu primeiro livro, e ajudá-la a atrair todas as atenções da mídia.
Para dirigir o filme, os produtores chamaram a experiente e consagrada cineasta indiana Mira Nair, autora de filmes feitos na Índia (Salaam Bombay, de 1988), na Índia e nos Estados Unidos (Nome de Família/The Namesake, de 2006), e na Europa (Feira das Vaidades/Vanity Fair, de 2004), boa no drama familiar e na superprodução.
Nomes respeitados no elenco, produção suntuosa, boa trilha
Para o papel de Amelia, foi escolhida Hilary Swank – que tem uma fantástica semelhança física com a biografada, e é uma atriz respeitada, conhecida, dois Oscars na lareira da casa, por Meninos não Choram/Boys don´t Cry, de 1999, e Menina de Ouro/Million Dollar Baby, de 2004. O papel de George Putnan foi para o grande astro Richard Gere, e o de Gene Vidal, para o incansável inglês Ewan McGregor.
A produção é suntuosa, com fantástica reconstituição de época e fotografia impecável de cenários deslumbrantes – vários dos muitos países sobrevoados por Amelia. Na trilha sonora, o sempre ótimo Gabriel Yared, cem trilhas no currículo, um Oscar (por O Paciente Inglês) e mais 12 prêmios e 22 indicações.
Mira Nair usou trechos de cine jornais da época e os incrustrou ao longo da sua narrativa. Por diversas vezes, ela funde as imagens em preto-e-branco dos filmes documentários da época com as coloridas de sua reconstituição. Integra seu relato com a realidade de maneira suave, sutil, branda. É um filme sem fogos de artifício, simples, interessante, sério, bom.
Uma vida rica, aventureira, interessante, um bom roteiro, bom elenco, boa diretora, produção bem cuidadíssima – um belo filme.
E, no entanto, tem sido um imenso fracasso comercial. Feito com um orçamento de US$ 40 milhões, lançado nos Estados Unidos em 23 de outubro de 2009, não obteve, até agosto de 2010, nem metade disso. O site Box Office Mojo contabilizou US$ 19,642 milhões de renda nas bilheterias.
Amelia (Amelia – EUA/Canadá, 2009)
Com: Hilary Swank (Amelia Earhart), Richard Gere (George Putnam), Ewan McGregor (Gene Vidal), Christopher Eccleston (Fred Noonan), Joe Anderson (Bill), Cherry Jones (Eleanor Roosevelt), Mia Wasikowska (Elinor Smith).
Direção: Mira Nair
Duração: 111 min.
Gênero: Drama.
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