As Aventuras de Pi
Sinopse: Pi Patel (Suraj Sharma) é filho do dono de um zoológico localizado em Pondicherry, na Índia. Após anos cuidando do negócio, a família decide vender o empreendimento devido à retirada do incentivo dado pela prefeitura local. A ideia é se mudar para o Canadá, onde poderiam vender os animais para reiniciar a vida. Entretanto, o cargueiro onde todos viajam acaba naufragando devido a uma terrível tempestade. Pi consegue sobreviver em um bote salva-vidas, mas precisa dividir o pouco espaço disponível com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala chamado Richard Parker.
Critica: Dizem que a fé remove montanhas. Então, não deve mesmo ser impossível imaginar um garoto em um bote salva-vidas, com um orangotango, uma hiena, uma zebra e um tigre de bengala conseguir sobreviver no mar por 227 dias. Afinal, Pi Pavel era um homem de fé. E não apenas uma fé. Indiano, ele ainda na infância conseguia seguir o hinduísmo, o catolicismo, islamismo e posteriormente o judaísmo. Eram apenas formas diferentes de compreender Deus.
Baseado no livro de Yann Martel, As Aventuras de Pi é mais do que um filme de aventura, é um filme de fé. De comunhão com as crenças, medos e capacidade de superação do ser humano. Nascido Piscine Patel, Pi teve que conviver com adversidades desde muito pequeno, a começar pelo próprio nome, que era de uma piscina pública em Paris e virou chacota dos colegas de sala que o chamavam de pipi. Passou por um trauma na infância que o deixou descrente de muitas coisas e quando voltou a ter um motivo para ter esperanças no futuro, seus pais resolveram deixar a Índia em direção ao Canadá. No caminho, uma tempestade o deixa sozinho no mar com os quatro companheiros inusitados. Sobreviver, será mesmo uma questão de fé.
A estrutura do roteiro de David Magee segue uma não-linearidade ao colocar como ponto de ligamento da trama Pi já mais velho, sendo entrevistado por um escritor que irá escrever a sua história. Dessa forma sabemos que Pi sobreviveu, é verdade. Mas, ele sobreviver é o que menos importa no filme. O que importa é como ele conseguirá isso, os aprendizados pelos quais passará, as escolhas, a forma de superação. E, principalmente, o que tudo aquilo significa.
Ang Lee nos traz escolhas bastante felizes para representar essa história. A fotografia é pomposa, os efeitos especiais incríveis, as imagens são belas em uma constituição emocional que aquela trama precisa. O mar aberto sempre fascinou o homem e a forma como o oceano é representado, principalmente à noite, impressiona. A grandiosidade da natureza diante da pequenez do homem, um ser frágil perdido naquela imensidão e a luz que vem do alto, o Deus, ou pelo menos o que ele acredita ser. Afinal, o que mais Deus quer de Pi?
E aí, entra o segundo personagem principal, Richard Parker. O tigre de bengala. Um ser quase mítico que já fascina Pi na infância e funciona como uma lição dada de seu pai. Uma forma dele perceber que não pode confiar em animais, tirando assim sua inocência e sua crença em algo mais. Pi é desiludido nesse momento, mas tem que enfrentar novamente esse ser em meio ao oceano. Mais do que isso, tem que aprender a se comunicar com ele, para que ambos sobrevivam. Um precisa do outro. Um complementa o outro. É é impressionante como a computação gráfica consegue nos dar realismo a esse ser imponente.
Impressiona também o 3D e o realismo conseguido nas imagens. Nos sentimos dentro daquele barquinho junto com seus personagens. Nos sentimos um pouco Pi em cada desafio. Aprendemos a crer com ele, ainda que não profetizemos nenhuma de suas religiões. Porque o que Pi crê não são em religiões que modelam homens sem fé e irracionais. Mas, em algo mais profundo, em uma essência que cada homem só pode encontrar dentro de si. A possibilidade de escolher acreditar.
As Aventuras de Pi é um filme pomposo. Impressiona em imagens, em tema e em construção de mito. Capaz de envolver e emocionar pessoas, principalmente pela busca de algo que é tão caro e raro hoje na nossa sociedade individualista: um objetivo de vida, um motivo para ter a certeza de que realmente vale a pena lutar para continuar vivendo.
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