Como conciliar filhos e trabalho?
Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-lo?
Vinicius de Moraes.
A dramatização escolhida pelas participantes de uma palestra que ministrei há alguns anos no dia Internacional da Mulher foi: Como conciliar filhos e trabalho?
Este foi o conteúdo que provocava inquietação e culpa por parte daquele grupo. Numa das cenas, uma participante saiu totalmente de seu papel de filha de três anos de idade e disse de forma articulada: “Eu entendo que minha mãe vá trabalhar, ela gosta do que faz!”.
A participante em questão ao sair da cena negou totalmente o que sente uma criança pequena ao ver sua mãe sair de casa: medo e sensação de abandono. A mãe ainda é uma referência muito forte para uma criança em nossa sociedade.
E é a partir dos três anos que as crianças começam a entender ainda de forma bem difusa esta história de mãe e trabalho. Pois só a partir desta idade ela começa a diferenciar quem é ela e quem é o outro, conseguindo colocar-se em seu lugar de forma empática. Portanto, há uma diferença em termos de desenvolvimento infantil entre saber que a mãe trabalha e entender as razões pelas quais ela o faz.
Esta questão triangular entre “mulher, trabalho e filhos” é bastante complexa até para caber num único texto. E vejo que hoje ela é bastante banalizada.
Então, tentarei abordar alguns aspectos, sabendo que cairei fatalmente no reducionismo.
1) Você quer ter filhos?
Ter filhos hoje em dia é uma opção, e cada vez mais observo que uma parte das mulheres não os deveria ter tido. Pois não se dedicam a eles, vivem reclamando que perderam a sua liberdade, além de seus corpos esculturais. Filhos, para estas mulheres, são uma espécie de fardo eterno que terão que carregar. Muitas destas mulheres são até aparentemente cuidadosas com seus rebentos, principalmente no aspecto externo: crianças limpinhas e bem arrumadas. Porém, no item dedicação, não é raro vê-las, mesmo quando têm todo o tempo do mundo, não dar a menor atenção à criança. Delegam a educação das mesmas para qualquer um: avós, escolas, amigos e parentes.
Mulheres assim são as eternas filhas mimadas. Na psicologia da mulher, quando a mesma resolve ser mãe ela tem que aprender a lidar com este novo papel e abdicar o de filha que apenas recebe. Mãe é sinônimo de cuidado e afeto.
É comum ver mulheres deste tipo terem vários filhos e os abandonarem por aí, enquanto dedicam-se apenas a si mesmas e “curtem” suas baladas, viagens e passeios com amigos.
Quando uma mãe assume o papel de mãe, ela não se sente abdicando nada. Não fica lamentando, por exemplo, a balada ou viagem que não fez em função dos filhos. Ela prioriza o tempo que tem em função de outras atividades, tais como o trabalho ou estudos, para ficar com os filhos, e isto é uma prazer e não um peso.
Portanto, antes de ter um filho pense dez vezes. Previna-se para não tê-los. Você não é a sua avó, que precisava casar e ter filhos para ter um papel na sociedade.
2) Você quis ter filhos e trabalha
Diferentemente do item “1”, aqui estamos em outro patamar. A mulher quis ter um filho ou vários. Mesmo que não tenha havido um planejamento esta mulher assumiu o seu papel de mãe. E normalmente, por ter que conciliar trabalho e filhos, ela se sente culpada. Em seu pensamento perambulam questões como: “Será que não estou abandonando o meu filho?” “Será que eu o estou educando bem?”
As dúvidas atordoam a cabeça desta dedicada mãe.
Quando a mulher trabalha porque precisa (ou seja, se ela não trabalhar a comida não entra em casa), diria pela minha experiência profissional que esta questão é mais fácil de lidar, e a culpa, de certa forma, fica reduzida ou racionalizada.
Agora, quando a mulher exerce uma profissão que gosta ou trabalha por prazer, não relacionado à subsistência, é aí que o caldo entorna. Pois ela começa a sentir um conflito interno: trabalho ou fico com os meus filhos?
A palavra conciliação entra justamente neste caso. Conciliar é ajustar interesses. Um trabalho que exija, por exemplo, viagens longas e constantes não permite conciliação alguma, já que somente o trabalho está sendo priorizado. Da mesma forma, mulheres que trabalham, mas ficam o expediente inteiro falando dos filhos ou ao telefone com eles, também não estão conciliando nada.
Trabalho exige dedicação, e filhos idem, e para ambas as questões o tempo é fundamental. Os limites, por exemplo, só são de fato entendidos pelas crianças quando são feitos pessoalmente. Portanto, se você tem um trabalho no qual sai de manhã com as crianças dormindo e chega à noite com elas dormindo, não se iluda: você não está conciliando nada.
3) O que fazer então?
A esta altura do campeonato talvez você esteja com mais dúvidas do que certezas. Mas como te disse antes, “o assunto é complexo”.
Sem cair na armadilha das revistas femininas que pintam a mulher como um ser perfeito, mas inexistente, vou te dar algumas alternativas.
a) O tipo de empresa:
Trabalhe em um lugar que aceite que você além de profissional é mãe. Hoje é cada vez mais comum as mulheres serem maioria nos ambientes organizacionais. A lei brasileira dá quatro meses para a mãe ficar com seu bebê no setor privado, e seis meses em algumas empresas do setor público. Portanto, usufrua deste direito. Neste período seu bebê precisará muito de você, em função da amamentação.
Evite empresas que sobrecarregam os funcionários com horas extras constantes. Um trabalho extra de vez em quando faz parte de qualquer ocupação, porém quando isto se excede e vira rotina há problemas sérios empresariais. E talvez este ambiente desorganizado não seja o melhor para você.
Renegue também apelos midiáticos que mostram a mulher Atlas (aquela que carrega o mundo nas costas).
A questão principal na conciliação é o tempo.
Você também precisará estar liberada para fazer ligações durante o dia para poder acompanhar o que se passa com seus rebentos, principalmente se eles forem adolescentes.
b) Tenha auxiliares:
Esta dica é meio óbvia. A mulher que trabalha precisa cercar-se de bons auxiliares: escolas ou creches em período integral, babás, e avós.
Porém, lembre-se que a educação de seus filhos é indelegável e cabe somente aos pais. Você, tal como um executivo primoroso de uma enorme organização, apenas terá que confeccionar e acompanhar pontos de controle diariamente junto a estes auxiliares. Deixe crianças e adolescentes apenas com pessoas que você confiar, mas como um bom patrão, acompanhe o que estas pessoas fazem. Este é o ponto crucial. Converse muito com seus filhos durante o jantar (é fundamental que você faça ao menos esta refeição com eles, ao velho estilo todos sentados à mesa). Quando as crianças são pequenas elas revelam algumas verdades também nas brincadeiras. Fique atenta.
c) O bom marido e bom pai:
Antigamente cabia aos homens apenas o papel de provedor da casa. A figura de autoridade dele bastava nos momentos de repreensão dos filhos. Hoje, porém, as coisas não são mais assim. E o homem precisa ser inserido pela mulher a participar da educação dos filhos. Não deixe seu marido de lado. Se ele é um bom marido terá prazer em aprender junto com você sobre educação dos filhos. Isto é um aprendizado constante, já que nenhuma criança sai da maternidade com manual de instruções. Portanto, cada filho é diferente do outro, e cada um trará também novos desafios. E este fato necessitará de muito, mas muito diálogo por parte do pai e da mãe. Por este motivo, é preciso que o marido seja um bom marido, antes de tornar-se um bom pai.
Juntos vocês dois que trabalham poderão:
- Conversar sobre suas dúvidas e medos;
- Lembrar-se que o tempo que estiverem com os filhos é prioridade deles, e não de vocês (principalmente quando eles são pequenos);
- Que filhos não se conquistam através de presentes, mas de diálogo, limites e assumindo-se o papel de mãe e de pai;
- Que a televisão e o computador são apetrechos, e, portanto, não são membros da família;
- E que o tempo que passam com eles deve ser rico em brincadeiras, passeios, diálogos. E que pouca importa se vocês têm apenas duas horas por dia para ficar com seus filhos, o que importa é o que fazem e como fazem neste tempo. Lembrando-se que existem pais que têm todo o tempo em quantidade, mas nem sequer percebem a qualidade deste tempo.
Escrito por Suely Pavan Zanella.
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