Como lidar com chefes mulheres?
O que pensam os homens sobre a crescente presença feminina em postos de chefia.
Pesquisa confirma: número de mulheres em cargos de chefia tem aumentado. Nos últimos anos, o percentual passou de 13,5 para 30%.
Se no passado elas já se desdobravam em mil para dar conta da casa, do marido e dos filhos, hoje as mulheres estão ainda mais versáteis. Não só entraram com tudo no mercado de trabalho nas últimas décadas como vêm assumindo cada vez mais posições de destaque dentro das grandes empresas e instituições brasileiras. Uma pesquisa da Fundação Seade, de São Paulo, confirma: o número de mulheres em cargos de chefia tem aumentado. Nos últimos anos, o percentual passou de 13,5 para 30%. Mas e os homens, o que pensam a respeito? Como encaram a presença feminina liderando equipes e tomando importantes decisões no mundo dos negócios?
“Em geral, as mulheres são mais exigentes e quando estão em um posto de chefia, muitas vezes são mais duronas do que os próprios homens” Marshall Raffa, executivo.
Marshal Raffa, diretor executivo da Ricardo Xavier Recursos Humanos, afirma que esse crescimento significativo do número de mulheres em cargos de chefia sinaliza não só uma mudança de cultura dentro das empresas como também ressalta o nível de competência dessas profissionais. “A sociedade ainda está se transformando. É claro que a presença masculina em posições de destaque ainda é maior, mas não podemos negar que é crescente o número de mulheres que vem liderando equipes nas grandes empresas. Por isso, hoje observamos que o mercado está mais preocupado com a qualidade do líder e com os resultados que ele deve atingir, independente de esse líder ser homem ou mulher”, ressalta.
No entanto, segundo Raffa, quando estão no comando, as mulheres precisam atingir um nível de comprometimento e de superação muito maior do que os homens. Precisam provar que estão naquela posição não por algum tipo de favorecimento ou privilégio, mas sim por mérito próprio. “O preconceito já foi maior, mas ainda existe. Isso porque durante muito tempo a mulher foi vista como frágil, insegura e emotiva. O que as pessoas precisam entender é que se a mulher alcançou um cargo de liderança dentro de uma empresa é porque ela sabe perfeitamente conciliar – e separar – o lado profissional e o lado pessoal”, garante.
O diretor da Ricardo Xavier acredita que é da natureza feminina cobrar mais de si e do outro. “Em geral, as mulheres são mais exigentes e quando estão em um posto de chefia, muitas vezes são mais duronas do que os próprios homens”, diz.
“O homem foca mais nos objetivos, nos resultados; a mulher costuma olhar mais para o contexto todo” Sidnei Cardoso, executivo.
Para Sidnei Cardoso, executivo em uma multinacional no Rio de Janeiro, esse comportamento pode acabar sendo prejudicial para a própria mulher. “Já tive chefes de ambos os sexos e percebo que algumas mulheres tentam imitar os homens, ou seja, assumem uma atitude mais masculina no trabalho. Isso gera um conflito interno quando saem do ambiente profissional e vão para casa”, diz.
Sidnei considera que as mulheres possuem uma visão mais abrangente quando estão ocupando um cargo de liderança. “O homem foca mais nos objetivos, nos resultados; a mulher costuma olhar mais para o contexto todo. Se ela precisa atingir uma meta em um determinado trimestre, por exemplo, já está pensando também no trimestre seguinte”, opina. Essa visão feminina mais “macro”, segundo Mariana Horno, gerente da divisão de Legal da Robert Half, empresa especializada em recrutamento de executivos para média e alta gerência, de fato é uma característica das mulheres “chefas”. “O homem tem um perfil mais empreendedor, impulsivo e racional na hora de tomar uma decisão. Já a mulher pondera mais e avalia todas as consequências antes de bater o martelo”, observa.
“Nos trabalhos liderados por mulheres o feedback é mais espontâneo” Juca San Martin, biólogo.
Tanto Marshal Raffa quanto Mariana Horno afirmam que as mulheres costumam ser mais abertas ao diálogo quando são chefes. “Os feedbacks são muito importantes e frequentes quando uma mulher é líder. Ela geralmente gosta tanto de dividir suas impressões com seus subordinados quanto de ouvir as opiniões da equipe”, diz Raffa. Mariana complementa: “A mulher lida melhor com essa questão de ego, é mais humilde e está sempre aberta a receber ajuda e a melhorar”.
Juca San Martin, biólogo e doutorando em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), identifica essa pré-disposição feminina em promover o diálogo e conceder retornos imediatos no ambiente profissional. “Sempre senti mais necessidade de receber elogios de chefes homens. Acho que quando os trabalhos são liderados por mulheres, os feedbacks são mais espontâneos e frequentes. Já em projetos liderados por homens, isso não é corriqueiro. As mulheres conseguem separar melhor as etapas de um trabalho e vão dando sinais no decorrer do processo, enquanto os homens precisam ver a coisa pronta pra dar um feedback”, avalia.
“As mulheres têm humor mais instável do que os homens” Helio Burzaca, empresário.
Para o industrial Hélio Burzaca, as mulheres têm mais instabilidade de humor do que os homens. “Existe uma coisa de querer agradar a todos, de buscar uma aceitação que às vezes foge do âmbito profissional”, opina. Ele lembra que teve uma chefe que não se contentava em manter uma relação amistosa com seus subordinados somente no trabalho. “Ela queria que todos gostassem dela a qualquer custo, mas meu santo não batia. Claro que eu a respeitava e cumpria com minhas obrigações no trabalho, apenas não via sentido em transformar aquela relação profissional em uma amizade”, explica.
“É um paradigma que assombra muitos homens: se reportar a uma mulher e, eventualmente, pedir ajuda; mexe com o ego” Marshall Raffa, executivo.
Raffa diz que quando uma mulher é promovida em uma empresa e passa a gerenciar um time, muitas vezes seus subordinados homens apresentam, de imediato, certa dificuldade para expor dúvidas e dificuldades que podem surgir no dia a dia. “É um paradigma que assombra muitos homens: se reportar a uma mulher e, eventualmente precisar pedir ajuda, mexe com o ego. Mas isso costuma ser amenizado com o tempo”, avalia.
O biólogo Juca San Martin conta que nunca se sentiu intimidado na hora de expor dúvidas e pedir orientações para sua ex-chefe. “Pelo contrário: com ela aprendi a nunca ter medo de aprender”, diz. Segundo ele, quando são chefes, as mulheres se envolvem tanto com o que fazem que fica difícil separar trabalho e lazer. “Claro que estou falando de um nicho específico, pois pesquisadores costumam se envolver demais com o trabalho. A verdade é que somos apaixonados pelo que fazemos e nos divertimos trabalhando”, complementa.
Escrito por: Paloma Lopes
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