Confi@r
Sinopse: Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) têm três filhos. Enquanto um está prestes a entrar para a faculdade, a filha do meio, Annie (Liana Liberato), começa a apresentar os sintomas comuns das adolescentes que querem se parecer mais velhas e ser aceitas entre seus pares. Publicitário bem sucedido e super envolvido com a profissão, Will procura ter uma relação de confiança com os filhos, mas Annie inicia um relacionamento no computador com um jovem de 16 anos e dá continuidade através do telefone. Sem que seus pais soubessem, ela aceita o convite dele para um encontro, mas a surpresa que ela tem no primeiro momento é só o começo de um pesadelo que marcará para sempre a sua vida e a de sua família. (RC)
Crítica: A tecnologia e as maravilhas do mundo moderno trazem também alguns processos penosos com o qual precisamos aprender a lidar. Dentre eles está a educação dos filhos e como controlar o que eles fazem na internet. A segunda incursão de David Schwimmer, o eterno Ross do seriado Friends, na direção trata com delicadeza esse tema e suas profundas cicatrizes.
Annie vivida pela jovem Liana Liberato, é uma adolescente comum, que começa a descobrir seu corpo e não quer mais ser tratada como criança. Com problemas normais do ensino médio, ela tenta ser aceita no grupo das meninas mais populares, quer uma vaga no time de vôlei do colégio e está apaixonada por Charlie. O problema é que o “garoto” com quem passa os dias trocando mensagens é, na verdade, um homem mais velho que se aproveita dos chats na internet para se aproximar e abusar sexualmente de meninas mais novas. Agora, ela e seus pais Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) terão que conviver com um drama que não imaginavam ser possível.
O roteiro de Andy Bellin e Robert Festinger é ábil ao nos mostrar a construção dos personagens principais em detalhes para nos manter ligados a eles durante todo o drama. Primeiro temos a adolescente Annie, uma garota que só quer ser aceita e se sentir amada, como todas as outras. Depois temos um pai amoroso que dá um computador de presente de aniversário, mas quer observar o que ela faz nele e uma mãe presente que não quer que a filha cresça antes do tempo, vide a cena do sutiã. O problema é que nenhum dos dois, apesar do cuidado, consegue compreender e se tornar cúmplice dos anseios da filha, que busca isso no desconhecido por trás da tela com codinome Charlie. Desde o princípio as pistas de que Charlie não é exatamente o que diz ser são apresentadas. As informações vagas, as desculpas em relação à câmera quebrada, as mentiras em escala: não tenho 16 anos, tenho 20, depois tenho 25 até que a verdade se revela.
A direção de David Schwimmer acompanha isso. A começar pela boa opção de colocar as falas do CHAT na tela. Assim acompanhamos os passos em um tom mais próximo. A tensão do filme é crescente. A situação desconfortável é demonstrada em gestos, imagens simbólicas, quarto escuro, câmera de cima observando em detalhes as cenas, como a no quarto do motel com os dois de costas. Apesar do tema forte, nada chega a chocar, a condução delicada mesmo quando as conversas entre os dois é descrita em detalhes fazendo o pai explodir em uma crise. Aliás, a reação oposta de Will que se torna um obcecado, com explosões de raiva e Lynn que só pensa em como pode ajudar a filha é bastante condizente com o que somos apresentados anteriormente.
Clive Owen consegue nos passar o desespero de um pai que vê sua filha violentada, mas parece ter mais raiva ou medo de ver que ela se tornou uma mulher.
A cena em que conversa com o sócio é bastante representativa nesse sentido. Sua expressão pasma ao ver que o outro ficou aliviado ao saber que a filha foi para o motel com um homem que conheceu na internet é incrivelmente simbólica. Apesar de enganada, Annie de fato foi ao local por livre e espontânea vontade. A forma delicada como Schwimmer demonstra isso, fazendo a menina sair da decepção da mentira para o encantamento com o “amigo” dos últimos meses é forte. Assim como o medo e constrangimento quando ele se aproxima dela no quarto. E claro, a forma como nega a violência depois. Liana Liberato segura bem as nuanças do difícil papel. Assim como Catherine Keener que, apesar da participação menor, consegue demonstrar o desmoronamento da mãe preocupada, mas que se mantêm forte diante da filha que necessita dela.
Destaco ainda a participação de Viola Davis como a terapeuta designada para o caso. Aliás, todo o processo em torno da investigação, tratamento, pesquisa e forma de lidar com os familiares e vítima é muito bem conduzido. Realista, sem excessos, nem fantasias mirabolantes de desfechos mágicos. O filme é uma forma de demonstrar o perigo real que acontece todos os dias em diversas partes do mundo. Não há aqui super-heróis para salvar mocinhas indefesas. Neste ponto, a reação do pai também é condizente com a de um homem que não aceita perder e vai tentar de tudo para vingar a filha.
Confiar ainda tem um plus na parte final, deixando bem claro não apenas o tema do filme, mas o significado da palavra que traz no título. É emocionante, frustrante e ao mesmo tempo confortante a forma como David Schwimmer nos conduz. Um bom representante do ano.
Confiar (Trust: 2011 / EUA)
Com: Clive Owen, Catherine Keener, Liana Liberato, Viola Davis.
Duração: 106 min.
Direção: David Schwimmer.
Gênero: Drama.
Roteiro: Andy Bellin e Robert Festinger.
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