(Dis)sonâncias entre Elas e Eles
Uma pausa e um olhar para o passado e suas ressonâncias no modo de ser da mulher contemporânea viabilizam pontuar que durante séculos a mulher foi sequestrada de seu corpo, da dimensão de seu desejo, de sua intimidade bem como de sua atuação no espaço público. Nos dias atuais – século XXI –, porém, estão visíveis pertinentes mudanças. Sua conquista do prazer afetivo- sexual, por exemplo, desencadeou significativas transformações na sua autoidentidade, bem como no seu modo de expressar o erotismo. Nesse sentido, é possível dizer que está havendo uma horizontalidade nas relações de gênero. Constatam-se homens mais flexíveis com a rotina do universo privado e as mulheres menos dependentes de seus cuidados. Todavia, um olhar mais aguçado na direção das relações de gênero é capaz de indicar que mulheres e homens de um modo geral estão insatisfeitos em seus relacionamentos afetivo-sexuais.
A mulher se queixa de que o homem continua se “protegendo” emocionalmente, uma vez que não se permite criar vínculos afetivos. Vínculos esses que envolveriam pactos de confiança, os quais envolve o zelar e predisposição para investir na relação. Projetos e ações da parceria seriam avaliados e negociados num clima de igualdade. O homem ouvido se queixa de que a mulher, com a conquista de sua independência sexual e econômica, ficou fria e intolerante. Fria no sentido de não aceitar aqueles seus deslizes ocorridos em saídas com os amigos ou por sua indisposição para ouvi-la narrar os acontecimentos do cotidiano do trabalho ou o seu silêncio diante da elaboração de um projeto de férias.
Nessa dissonância, os relacionamentos adquirem um caráter experimental – alguns não duram seis meses. Nota-se a que a ausência de diálogo entre os gêneros dificulta o entrelaçamento da intimidade, da cumplicidade e da revitalização do erotismo tão importante para a construção de uma nova ética amorosa fundada no diálogo.
O diálogo enquanto escuta compreensiva pode contribuir para amenizar a raiva, o rancor e a intolerância bem como para revisar os padrões de pensamentos e das crenças destrutivas aprendidas nas relações intrafamiliares ao longo das gerações. Esses padrões de pensamentos são como os vulcões em estado latente – passam anos “calados”. Mas silenciosamente “comandam”, nos mantêm sob o domínio de desordens, entre outras, das desordens de ansiedade e das desordens depressivas tão comuns nos dias atuais.
A procura por profissionais competentes e a disposição para compreender a “força do vulcão interno” contribui para que homens e mulheres possam ‘desconstruir’ o poder dos padrões destrutivos e nesse processo de discernimento abrir-se para a possibilidade de ativar/recriar/revitalizar o erotismo – força criadora que nos dispõe ao dialogo e a um modo de ser saudável.
Escrito por Maria Alves de Toledo Bruns.
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