Estamos Juntos
Sinopse: Carmem (Leandra Leal) é uma jovem e talentosa médica, que veio da pequena cidade de Penedo para viver sozinha em São Paulo. Seu melhor amigo é Murilo (Cauã Reymond), que conhece desde quando era pequena. Murilo é homossexual e trabalha como DJ. Um dia ele conhece Juan (Nazareno Casero), um músico argentino por quem se apaixona. Quando ele é expulso de casa pela namorada, Murilo não perde tempo e o chama para morar consigo. Entretanto, Juan é heterossexual convicto e passa a se interessar por Carmem. Ela retribui o interesse, mesmo temendo a reação de Murilo ao saber do fato. Até que uma situação inesperada muda os rumos do triângulo amoroso e da própria vida de Carmem.
Crítica: “O medo deixa as pessoas egoístas?” Esta frase abre e fecha o filme Estamos juntos. Um contraste incrivelmente rico entre título do filme e desenvolvimento do tema. A solidão nas grandes cidades assusta e nos filmes de Toni Venturi ela é representada por um personagem símbolo: a cidade de São Paulo. Outra constante na obra do diretor é o universo feminino, então, vemos em tela uma mulher que mora em São Paulo e sente-se cada vez mais só.
Carmem é uma residente médica com futuro garantido. Elogiada pelos médicos, admirada pelos colegas, pretende ser cirurgiã. Sua vida pessoal, no entanto, é inexistente. Ela vive de pequenos casos, farras e tem apenas um amigo que é o homossexual Murilo. Mas, mesmo com ele, ela tem pouca paciência para estreitar laços. E tudo piora quando Juan entra na história e vira objeto de desejo de ambos. Tem também um rapaz misterioso que aparece por vezes em sua casa. Uma espécie de anjo da guarda que cuida dela em momentos difíceis. E o pior deles é uma doença que pode acabar com seus sonhos profissionais.
O filme demora a mostrar sua verdadeira história. Ficamos um bom tempo conhecendo os personagens, nos familiarizando com suas rotinas, para só depois apresentar os temas. A doença de Carmem, a relação com Murilo e Juan e até mesmo o seu papel na comunidade do MSTC é interessante. Hilton Lacerda consegue construir o roteiro de uma forma envolvente, sincronizando todos esses objetos, o problema é só quando ele resolve escancarar o problema social. O filme se divide, então, em dois focos fortes que ficam frágeis ao não encontrar espaço para se desenvolver melhor. Fica uma mistura de drama pessoal x drama social, gerando cenas overs e injustificadas na trama. Por mais que a gente possa entender o paralelo da luta do MSTC com o de Carmem. “Quem não luta, tá morto”, grita Dira Paes que faz uma das líderes do movimento.
Sempre no tom da metáfora, dos paralelos dos mundos, Estamos juntos proporciona momentos incríveis como a conversa entre Carmem e seu amigo misterioso na varanda. Ela olha para cima e ele diz que São Paulo é a pior cidade para se ver as estrelas. Seria melhor subir ao topo de um prédio e olhar para baixo. É a sensação de que o céu desabou. Ao mesmo tempo que tem um tom literal nas luzes da megalópoles, tem toda a simbologia do mundo da personagem que caiu. E de quantas outras personagens daquela cidade. A direção constrói esses momentos com detalhes, jogos de luz e sombra, foco e profundidade de campo pequeno. É poético.
As atuações também ajudam na construção de uma bela história. Leandra Leal se entrega à Carmem com uma doçura incrível. Ela consegue ser frágil e forte ao mesmo tempo, perdida entre seus sonhos e o medo da solidão. Cauã Reymond consegue construir um Murilo que não cai na caricatura. É homossexual, tem alguns traços afeminados em momentos, mas é completamente centrado, interessante, sem afetações. Lee Taylor, mantêm bem o tom de mistério do seu personagem cujo nome não é dito em nenhum momento, mas nos créditos aparece Ângelo, talvez seja mesmo um anjo. E Dira Paes também consegue um bom destaque como a líder do movimento social, forte, guerreira, sem tom de comédia. Só Nazareno Casero destoa um pouco, mas talvez o seu personagem Juan é que não seja bem desenvolvido. Apenas um garoto que chega ao Brasil e quer curtir a vida.
A construção da doença de Carmem e sua solidão em não poder compartilhar sua dor é outra coisa bem construída. A dificuldade de desabafar, Murilo dormindo no sofá, a enfermeira que não tem tempo por estar de plantão, a mãe que não atende ao telefonema. “Você acha que eu nunca tive amigos, amigos de verdade?”, Carmem pergunta ao misterioso quase em uma constatação tardia do óbvio. E aí, a gente lembra do título, mas afinal, estamos juntos quem? Com todos os problemas de roteiro, foco e junção. É um filme tocante.
Estamos Juntos (Estamos Juntos: 2011 / Brasil)
Com: Leandra Leal, Cauã Reymond, Nazareno Casero, Lee Taylor, Dira Paes.
Direção: Toni Venturi.
Duração: 95 min.
Gênero: Drama.
http://www.youtube.com/watch?v=HrfFl2vWf5M
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