Notas sobre um Escândalo
Sinopse: As atrizes premiadas com o Oscar Judi Dench e Cate Blanchett estão sensacionais em atuações indicadas ao Oscar 2007 neste suspense de alta classe: uma interpretando uma mulher consumida pelo segredo da sua amiga, e a outra, vítima de suas próprias obsessões.
Judi Dench arrasa no papel de Barbara Covett, uma professora que comanda sua sala de aula com mão de ferro, mas leva uma vida terrivelmente solitária fora das paredes da escola, até que ela conhece a nova e radiante professora de artes Sheba Hart (Cate Blanchett). Á primeira vista fica muito feliz por ter encontrado uma alma gêmea, até que Barbara descobre que Sheba está tendo um caso com um aluno, então seus ciúmes e sua raiva ficam fora de controle.
Notas sobre um Escândalo possui todos os ingredientes necessários: desejo, cobiça, inveja, segredos, mentiras, traição!
Crítica: Notas sobre um Escândalo, não é um filme digestivo. Revela o aspecto espinhoso do desejo, onde todos saem feridos, sem exceção. Transpõe para a tela o drama de duas mulheres perdidas e rendidas em seus próprios desejos. Cegas e incapazes de seguirem na direção “correta”, Barbara (Judi Dench) e Sheba (Cate Blanchett) são devastadas no roteiro de Patrick Marber (o autor do filme Closer).
Sheba é uma típica dona de casa, entediada com sua rotina politicamente correta, que decide voltar a lecionar artes, depois de dedicar seu tempo durante 10 anos ao filho excepcional. Casada com um ex-professor, 20 anos mais velho e mãe de dois filhos, será assediada por um de seus alunos e o impulso de quebrar as regras impostas pela sociedade, de retirar a máscara de “boa moça” toma conta de Sheba, que comete um dos pecados mais temidos: a pedofilia.
Barbara é uma recalcada homossexual, que vive sozinha com seu gato e suas anotações. Ao ver pela primeira vez o semblante de Sheba, alimenta uma paixão platônica que alimentará seu interior, recheado de solidão e desespero. Barbara expõe de forma cruel o que há na mulher que envelhece, não se realiza profissionalmente, e nem encontra o parceiro(a) ideal para os confinados últimos dias. Barbara não tem ninguém e também não é “ninguém” sem o “outro”.
O diretor Richard Eyre (A Bela do Palco), retoma a parceria com Judi Dench – ambos haviam trabalhado juntos em Íris (2001) – e apresenta ao público uma atriz impecável. Dividindo os holofotes com Cate Blanchett, ambas indicadas ao Oscar, o filme foi inspirado no livro homônimo da jornalista e escritora inglesa Zoe Heller (lançado em 2003), e incomoda com o escancaramento dos sentimentos dessas duas mulheres. O choque da visão do feminino pelas óticas do homossexualismo e do heterossexualismo.
Segundo entrevista concedida ao jornal Folha de SP, no dia 02/03/07, Heller afirma que a versão do roteirista para Barbara a deixou mais “maligna e predatória”. Talvez essa característica nos aproxime tanto da personalidade amarga da personagem. Barbara não é apenas má, em suas singularidades, há uma forma deturpada, maligna e assustadoramente real de decupar o real e, tais características numa personagem homossexual feminina é quase impossível de ser visto. Heller diz que Barbara deveria soar engraçada. Talvez seja justamente a falta de comicidade em sua personalidade que faça com que a personagem se torne tão impagável e absurdamente real. Barbara é uma personagem que retrata com dignidade os buracos que a solidão provoca num homossexual que envelhece sozinho.
Tão impactante e perturbador é Sheba em seu desmesurado desejo juvenil. Quando a verdade vem á tona – ela vem sempre – é impossível não sentir pena da adúltera que apenas queria um pouco de emoção em sua vida. A pedofilia foi tratada com seriedade e sem sensacionalismo em dois recentes e interessantes filmes: O Lenhador e Mistérios da Carne – ambos de 2004. No primeiro filme, Kevin Bacon dá voz ao “monstro” da vez em meio ao processo de recuperação e no segundo vemos um adolescente pervertido, que utiliza de seu poder de sedução com plena consciência. Assim é o adolescente de 15 anos que cruza o caminho de Sheba.
O filme pode soar maniqueísta ao “castigar” suas personagens. Mas sua grandiosidade reside na humanidade que ambas trazem. Quem nunca se sentiu seduzido – ou tentado a – por alguém mais novo? Quem nunca se apegou há detalhes banais como um fio de cabelo? Ao nos por em contato com um espelho “Notas sobre um escândalo”, incomoda ao expor com tanta veracidade a dualidade do desejo.
A música minimalista de Philip Glass (As Horas), o roteiro de Patrick Marber e as interpretações incontestáveis de Blanchett e Dench, fazem valer cada centavo do ingresso. O filme é o “pecado intimo” da temporada e se torna sublime ao iluminar nossos recantos escuros.
Notas sobre um Escândalo (Notes on a Scandal, Inglaterra: 2006)
Baseado em livro de Zoe Heller.
Com: Judi Dench, Cate Blanchett.
Direção: Richard Eyre.
Duração: 92 min.
Gênero: Drama.
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