O noivo da minha melhor amiga
Sinopse: Rachel, uma advogada muito certinha, está prestes a completar 30 anos. Na comemoração, ela acaba bebendo demais e vai para a cama com Dex, amigo de faculdade e também noivo da sua melhor amiga Darcy. Sentindo-se péssima com a situação, as coisas parecem piorar a cada momento, pois Rachel será madrinha do casamento e vai ter que lidar com os preparativos da festa, seus sentimentos por Dex e ainda, a sua amizade cultivada desde a infância com a noiva traída.
Crítica: Duas amigas. Uma loira dominadora, extrovertida que gosta de ser centro das atenções. Uma morena, sem graça, tímida, apesar de bonita, fica escondida atrás da outra. Um rapaz, noivo da loira, paixão da morena, por quem é correspondido, apesar dele estar com a loira. Para completar, a distribuição brasileira quer deixar bem reforçado os clichês que invadiram as nossas telas nos últimos anos e apresenta o título: O noivo da minha melhor amiga. O déjà vu é imenso. E o pior é que, a cada cena do novo filme de Luke Greenfield, vamos nos incomodando com o ridículo da situação apresentada.
O roteiro baseado no livro de Emily Giffin, traz a história tola de Rachel, Darcy e Dex. Tola porque não faz o menor sentido lógico. A princípio somos apresentados aos três a partir de um prólogo interessante, onde Darcy organiza uma festa surpresa para a amiga Rachel que acaba de virar balzaquiana. Ali já percebemos a personalidade das duas e o interesse mútuo por Dex. Ele é noivo de Darcy, mas parece conhecer muito bem Rachel, até mesmo melhor que a amiga, já que percebe que ela já sabia da festa surpresa. Passa-se a festa, Darcy bebe demais e vai embora. Dex e Rachel acabam indo para cama e acordam com a ressaca do que irão fazer a partir de então.
Se fosse apenas essa premissa, garota se apaixona pelo namorado da amiga, seria clichê, mas aceitável. O problema é que a trama traz mais coisas por trás daquela aparente trama. E a roteirista Jennie Snyder parece com preguiça de nos explicar de uma forma mais criativa, apelando para flashbacks insossos. Pior ainda, é a escolha de Luke Greenfield para encaixar esses flashbacks na trama, a gente se sente vendo um filme antigo ao ver a personagem Rachel parar, olhar para o nada (como se estivesse pensando) e um efeito nos levar para o passado. É nesse passado que reside o problema da premissa. Rachel não conheceu Dex como namorado da amiga. Os dois eram colegas de faculdade. A aproximação entre ambos era clara. Estudavam juntos para os exames, tinham afinidades, viviam grudados. Um dia, Darcy aparece entre os dois e com seu jeito de dominar a situação resolve dar em cima de Dex. Vários problemas encontram-se aí. Dex gosta de Rachel. Rachel gosta de Dex. Alguém explica por ambos simplesmente deixam Darcy entrar no meio e começar a namorar com ele? Depois, que amiga é essa que sabe que a outra só fala em Dex e já dá em cima dele?
Isso constrói para os espectadores a sensação exata de que os protagonistas são dois bobos que não merecem a nossa atenção ou torcida. Não há nada que os impeça de ficar juntos, não falo da situação atual, mas do passado. A trajetória de ambos é ridícula. Para completar, temos os amigos clichês, o babaca que vive dando em cima de todas e falando de sexo, a problemática que vive atrás de um amigo e em determinado momento, é comparada a protagonista de Atração Fatal. E o amigo compreensivo que está sempre ao lado da protagonista tentando fazê-la enxergar o que todos nós estamos vendo de forma tão clara. Aliás, Ethan, esse amigo é o melhor personagem da história. Inteligente, sensato, a voz da razão durante toda a projeção. E o ator John Krasinski ajuda a construir essa carisma. O que não podemos dizer o mesmo dos protagonistas. Tanto Kate Hudson, como Darcy, Ginnifer Goodwin, como Rachel, quanto Colin Egglesfield, com Dex, estão apagados, irritantes e sem nenhum carisma.
O roteiro é pouco inspirado não apenas na construção da trama e flashbacks, mas em todas as apelações de clichês possíveis nesse caso. Temos vários momentos em que as ações são cantadas como na cena do restaurante em que Darcy chama Dex e Rachel para conversar. Esse clima de “ela descobriu”, em que depois vemos outra revelação, é repetido exaustivamente até o final do filme. Perde qualquer graça. Há ainda a caracterização de Rachel no colégio. Aquela falsa feia, toda desarrumada, para reforçar sua auto-estima baixa. Outro clichê que nunca funciona acontece quanto Rachel começa a usar Marcus para fazer ciúmes em Dex. Uma mulher de trinta anos com atitudes de pré-adolescente cansa nossa paciência. Para completar, descobrimos que Dex além de bobo, é filhinho de papai. Rico, com várias regalias pagas pelos pais e uma promessa de nunca magoar a mãe. Isso complicará sua decisão de acabar o casamento e ficar com Rachel.
Para não dizer que nada se salva em O noivo da minha melhor amiga, temos uma excelente trilha sonora. Várias músicas embalam a história, além de uma boa construção de clima a cada cena. É o ponto que nos diverte, apesar do texto. Mas, claro, como todo filme de adolescente, temos a famosa cena da dancinha. As amigas estão em casa, colocam uma música marcante para ambas e começam a dançar reforçando a cumplicidade entre ambas. Talvez a gente pudesse passar sem essa, mesmo que até seja divertida. Destaque ainda para cena na chuva ao som de Radiohead.
Comédias românticas são fórmulas prontas. Aceitamos seus clichês se são utilizados de uma maneira inteligente, com sentido. Mas, O noivo da minha melhor amiga abusa da paciência do espectador. Ah, e ainda tem uma cena durante os créditos que os fãs de Emily Giffin vão entender melhor que nós. Agora, se continua mesmo, só a bilheteria vai dizer.
O noivo da minha melhor amiga (Something Borrowed: EUA/2011)
Com: Ginnifer Goodwin, Kate Hudson, John Krasinski, Colin Egglesfield.
Direção: Luke Greenfield.
Duração: 103 min.
Gênero: Comédia Romântica.
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