A Hora Mais Escura

By on 10/04/2014

Sinopse: Os ataques terroristas sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 deram início a uma época de medo e paranoia do povo americano em relação ao inimigo, onde todos os esforços foram realizados na busca pelo líder da Al Qaeda, Osama bin Laden. Maya (Jessica Chastain) é uma agente da CIA que está por trás dos principais esforços em capturar Laden, por ter descoberto os interlocutores do líder do grupo terrorista. Com isso ela participa da operação que levou militares americanos a invadir o território paquistanês, com o objetivo de capturar e matar bin Laden.

Crítica: O primeiro problema de A Hora Mais Escura é o mesmo da maioria dos filmes concorrentes ao Oscar desse ano, a longa duração. Mas, no caso do filme de Kathryn Bigelow isso é um problema ainda maior já que a história que ela conta não tem substância para isso. Fica então, principalmente na primeira hora de projeção uma arrastada trama sobre tortura que gerou muita polêmica em relação a direitos humanos.

O filme se propõe a ser a narração quase fiel da caçada à Osama Bin Laden. Para isso, o roteirista Mark Boal e Kathryn Bigelow retornam à origem do problema, com uma tela escura e sons de narração do 11 de setembro de 2001 para abrir o filme. Logo depois, estamos em um acampamento militar onde a personagem de Jessica Chastain, Maya, vai ter os primeiros contatos com torturas feitas na tentativa de encontrar pistas para a localização do terrorista. A agente da CIA é uma mulher obcecada por essa missão. Nem mesmo a longa tortura em um dos prisioneiros a intimida. Aliás, toda a primeira parte do filme é feita de torturas e exibição de atentados terroristas.

hora-mais-escuraO jogo de de horror incomoda e nos deixa ligados na cadeira. Kathryn Bigelow constrói expectativas ao narrar a trama em um ritmo lento, quase documental, nos dando a sensação de que o tempo se arrasta. E, ao mesmo tempo usa do susto em cada atentado, como se nos acordasse para a próxima sequência de discussões e estratégias dentro da CIA. Em uma sequência, no entanto, ela usa de técnicas de suspense e de horror ao mesmo tempo, quando dá pistas, até tolas como um gato preto atravessando a pista, para depois nos dar mais um susto, por mais que já estivéssemos esperando aquilo.

Jessica Chastain, que já ganhou o Globo de Ouro e concorre ao Oscar, está bem, mas sua interpretação não é nada demais. A própria personagem Maya não nos traz nada de admirável. Uma mulher arrogante e obsessiva que tem como sentido de vida apenas capturar e matar um terrorista, como se um homem fosse a solução para todas as questões da humanidade. A forma como ela fica no escritório fazendo a contagem progressiva após descobrirem uma tal casa é irritante. É como se dissesse, “vamos lá, invade e mata todo mundo que nossos problemas estão resolvidos”.

a-hora-mais-escura (1)O grande perigo de A Hora Mais Escura é exatamente esse. Justificar tortura e assassinatos como se isso fosse por uma causa maior. Pela nobre vingança do que aconteceu em 11 de setembro e em todos os outros atentados terroristas posteriores. Como se matar Bin Laden fosse o objetivo maior da humanidade. Uma espécie de novo Hitler que ameaçava a paz mundial. Resume terrorismo e intrigas internacionais de uma maneira muito simplista, como se não houvesse todas as outras questões, financeiras principalmente, por trás de tudo isso.

E o maior perigo disso é que Kathryn Bigelow faz muito bem o seu trabalho. É uma diretora competente que mesmo em meio à longa duração da trama, sabe dosar as emoções e nos envolver naquele jogo, gerando expectativas e emoções diversas. Acompanhamos as investigações no decorrer dos anos, as torturas, as invasões, as mortes quase que concordando que era o melhor a ser feito. Tal qual Leni Riefenstahl que quase nos fazia acreditar em Hitler, Bigelow nos coloca ao lado dos Estados Unidos e de Bush (que foi quem começou isso, ainda que Obama tenha terminado) como salvador da humanidade contra o perigo que é o terrorismo.

A Hora Mais Escura é, então, um filme polêmico. Talvez o título em português subliminarmente estivesse querendo passar isso. Como se essa fosse a hora mais densa, mais obscura da nossa história, quando vibramos com torturas e assassinatos a sangue frio com a justificativa de que é por um bem maior. Como se o valor de cada vida fosse diferente. Como se Deus fosse maior que Alah. Como se o nosso mundo fosse mais valioso do que o do nosso vizinho. Que Deus e Alah nos ajudem a evoluir além desses conceitos tão chulos para que possamos realmente ter um mundo de paz.

A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 2012 / EUA)

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Com: Jessica Chastain, Joel Edgerton, Chris Pratt.
Direção: Kathryn Bigelow.
Duração: 157 min.
Gênero: Suspense , Ação.
Roteiro: Mark Boal.

 

 

 

 

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