O Discurso do Rei
Sinopse: Desde os 4 anos, George (Colin Firth) é gago. Este é um sério problema para um integrante da realiza britânica, que frequentemente precisa fazer discursos. George procurou diversos médicos, mas nenhum deles trouxe resultados eficazes. Quando sua esposa, Elizabeth (Helena Bonham Carter), o leva até Lionel Logue (Geoffrey Rush), um terapeuta de fala de método pouco convencional, George está desesperançoso. Lionel se coloca de igual para igual com George e atua também como seu psicólogo, de forma a tornar-se seu amigo. Seus exercícios e métodos fazem com que George adquira autoconfiança para cumprir o maior de seus desafios: assumir a coroa, após a abdicação de seu irmão David (Guy Pearce).
Crítica: Doze indicações ao Oscar, parece que o filme de Tom Hooper está ganhando força mesmo, principalmente após a vitória no PGA. O Discurso do Rei é uma obra extremamente bem realizada. A direção é muito boa, o roteiro é acertado, a direção de arte, a fotografia, o som, a edição são muito bem cuidados e as interpretações são irretocáveis. A união disso tudo dá mesmo um grande filme. O único problema é que ele é bem feitinho demais e, como disse Vincent Cassel em Cisne Negro, às vezes, faz parte da perfeição perder o controle. Então, ele não nos arrebata. Não saímos do cinema estupefados com a inovação de A Origem, nem com a agilidade de A Rede Social, muito menos com a emoção de Cisne Negro. Ainda assim, é um belo filme, com todos os méritos para suas doze indicações e possíveis vitórias.
George sofre de uma gagueira desde a infância. Se isso já é um problema para uma pessoa comum, imagine para um príncipe? Tudo piora quando seu pai morre e seu irmão mais velho abdica do trono para casar com uma americana desquitada. O Rei da Inglaterra tem que falar à seus súditos, ainda mais agora que o rádio virou uma comunicação oficial do reino. É quando entra em cena o incomum fonoaudiólogo Lionel Logue. Ele terá que ajudar o futuro rei a superar seus traumas e conseguir fazer um discurso sem gaguejar.
A genialidade de David Seidler está em construir um roteiro que nos prenda a ponto de sentir o problema da gagueira do rei como um problema de estado. Maior até que a guerra iminente, quem sabe. Nos envolvemos no drama, na terapia compulsória, na iminência do discurso. A cadência da história, o humor inglês com várias frases satíricas, deixam a estrutura dinâmica, não tornando o filme chato. A gente se envolve e não percebe que deu importância demais a um problema tão pequeno. Isso é perigoso, mas também mérito do filme. A direção de Hooper e a fotografia Danny Cohen contribuem para essa construção, primando pelos detalhes. O plano inicial no estádio de Wembley, com o enquadramento do microfone de baixo para cima pegando o estádio é um resumo do sentimento do filme.
A direção de arte é outro ponto positivo, sempre cuidadoso com a época, rico em detalhes, em harmonia com o figurino e os cenários. Assim como o som, os detalhes de ruídos, a transmissão via rádio, a trilha sonora. Como já disse, o filme é construído com muita técnica e preparo. Todos os planos são bem pensados. Os enquadramentos, os movimentos de câmera. Um balé bem realizado que nos envolve em sua teia. Não há defeitos a serem apontados, mas também não há inovações. É o filme clássico. Nada salta aos olhos.
Talvez, as interpretações. Colin Firth brilha absoluto como protagonista dessa história. A força de sua gagueira, a dor de não conseguir expressar as palavras, a dureza de um representante da família real que aprendeu a não expor suas fraquezas ao mesmo tempo em que precisa abrir seus medos para se curar. Passamos boa parte da projeção grudados em seu rosto, se ele não fosse bem, o filme seria um fracasso. Da mesma forma, Geoffrey Rush que é o suporte perfeito para Firth. Como seu fonoaudiólogo, Rush dá o tempero exato para que a química entre os dois gere momentos memoráveis. Já Helena Bonham Carter é uma excelente atriz, e como tal dá à sua Rainha Elizabeth uma emoção e força necessárias ao papel. Mas, o roteiro não chega a exigir muito dela. Talvez, por isso, não esteja tão cotada nas premiações.
O Discurso do Rei é isso. Um filme bem realizado em todos os quesitos técnicos. Por isso, as doze indicações. Além disso, é um filme bonito, emocionante, envolvente. Só que é preciso um pouco de tempero extra para se tornar uma obra-prima. Falta esse tempero à obra. Não que isso o torne ruim. Apenas não me convenceu como o grande filme do ano.
O Discurso do Rei (The King’s Speech: Inglaterra – 2010)
Com: Colin Firth, Helena Bonham Carter, Geoffrey Rush, Michael Gambon.
Direção: Tom Hooper.
Duração: 118 min.
Gênero: Drama.
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