Os Entraves da Ascensão Feminina

By on 09/05/2014

Nunca se falou tanto de mulheres e ascensão profissional como atualmente. Livros, revistas, internet tem abordado o tema sob vários aspectos. Trata-se de uma significativa mudança de paradigmas ocorrendo através de um equilíbrio profissional, nunca imaginado antes. As mulheres estão notoriamente mais competitivas e se preparando cada vez mais para ascender profissionalmente, fato que pode ser comprovado estatisticamente segundo o ultimo censo realizado no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que apontou que mulheres possuem um tempo maior de escolarização que os homens e atualmente, somam a maioria em cursos de ensino superior.

Hoje somos maioria no Brasil, somando 51,3% da população impactando em diversos aspectos de nosso país, inclusive na economia. O numero de provedoras dos lares brasileiros, aumentou significativamente e nos dia de hoje, há mulheres que não somente ganham mais do que homens como também sustentam famílias inteiras.

A grande questão, no entanto, está relacionada acerca dos entraves desta ascensão feminina, fatores pessoais e sociais que impedem o crescimento profissional de muitas mulheres. Uma pesquisa realizada pela McKinsey & Company, aponta que atualmente os maiores impedimentos para o desenvolvimento profissional das mulheres giram em torno de sete questões fundamentais, são elas:

ascencao carreira1. Dificuldade de equilibrar trabalho com vida familiar

O maior fator de impedimento para mulheres que buscam crescer profissionalmente e ocupar postos mais altos nas hierarquias empresariais está relacionado à dupla jornada que exercem, pois não conseguem conciliar ambição profissional com responsabilidades familiares e ao se verem obrigadas a optar, acabam escolhendo a família, adiando assim seu sonho profissional.

Ainda pesa sob responsabilidade feminina o compromisso pelo cuidado familiar, especialmente dos filhos e de assuntos domésticos. Culturalmente as mulheres são educadas para assumirem resoluções de questões práticas e triviais da vida cotidiana, confrontando diretamente com sua carreira.

As mulheres que conseguiram ascender profissionalmente em suas carreiras, foram aquelas que acabaram descobrindo uma forma de driblar estas dificuldades, encontrando um meio para vencer esta grande barreira, muitas contam com a ajuda de babás e empregadas domésticas que contribuem significativamente para a redução de preocupações com o lar e com os filhos, outras, no entanto, não usufruem destas formas de ajuda, restando assim o compartilhamento de tarefas diárias com o marido. É importante envolver o parceiro nas responsabilidades familiares, dividir afazeres domésticos, supermercado, o cuidado com os filhos também deve ser discutido quando se deseja ascensão profissional. Contar com o apoio de parentes é uma excelente estratégia para o equilíbrio entre trabalho e vida familiar.

2. Falta de Políticas públicas para a família ou serviços de apoio

A falta de politicas públicas adequadas, que de suporte à mulher, bem como a família ainda é uma grande barreira feminina, dificultando assim a autonomia delas. É necessário que seja repensado as diretrizes de ações do poder publico para que exista maior igualdade de oportunidades, impactando assim diretamente em vários aspectos da vida cotidiana, inclusive na questão econômica das brasileiras.

3. Ausência de exemplos femininos a serem seguidos

A ascensão profissional feminina, ainda é um tema relativamente novo nas empresas, atualmente a grande maioria do alto escalão da hierarquia organizacional é constituída por homens. Para chegarem ao topo de suas carreiras, as mulheres também encontram dificuldades neste sentido, justamente por não terem modelos a serem seguidos. Não tendo em quem se espelhar, encontram entraves e barreiras que precisam aprender a quebrar sozinhas, sendo desta forma muito mais difícil e trabalhosa, pois normalmente acabam agindo de acordo com o que acreditam ser o correto ou ainda se espelhando em modelos masculinos, perdendo assim um pouco da essência feminina de liderança.

4. Tendência das mulheres de não promover outras mulheres

Pela falta de exemplos femininos e também por insegurança, mulheres tendem a promover mais homens do que outras mulheres, isto acontece por dois motivos. O primeiro é que a mulher quando assume um cargo elevado na hierarquia de uma empresa, acaba adotando padrões masculinos de liderança, desta forma, quando ocorre a oportunidade de promoção, acaba buscando pessoas que tenham o mesmo perfil profissional que o seu, optando assim por pessoas do sexo masculino. Outro fator é a insegurança que muitas delas têm de perder o prestigio que conquistaram, pois acreditam que se promoverem outra mulher, poderão se sentir ameaçadas em uma posição que custaram tanto a conquistar, desta forma preferem não arriscar, prevalecendo então como a única “alfa” da ala feminina dentro da empresa.

5. Tendência das mulheres de fazer networking de maneira menos eficiente do que os homens

Mulheres ainda encontram-se em um dilema quando o assunto é networking. Isto porque de certa forma se sentem desconfortáveis em determinadas situações, convidar um homem para tomar um café pensando em propor-lhe um negocio ou apenas para trocar informações profissionais, pode ser motivo de angústia para elas, imaginando “o que os outros ou até mesmo a pessoa convidada poderia pensar”. Mulheres são ótimas em criar laços, mas quando se trata de fortalecer laços profissionais, ainda pecam um pouco, pois acabam colocando outras prioridades à frente de suas próprias carreiras, pagando um alto preço por isso no aspecto profissional.

6. Tendência das mulheres de ter menos ambição profissional do que os homens

Ao se verem divididas entre vida profissional e vida pessoal, as mulheres acabam recuando, preferindo estabilidade à ascensão. Preferindo a segurança de um emprego que lhe traga uma permanência profissional tranquila à ter que enfrentar novos desafios.

Não que elas realmente sejam menos ambiciosas, ao contrário, muitas tem uma grande vontade em ascender em suas carreiras, mas devido a diversas dificuldades, muitas delas citadas acima, acabam optando por recuar ou ao menos estagnar, pois acreditam estar assim, garantindo a preservação do equilíbrio profissional e pessoal.

É importante que neste momento pensemos realmente nestes entraves, pois chegamos ao que se tem denominado “A era da mulher”, onde a cada dia elas conquistam mais o mercado de trabalho e estão dispostas a ocupar o seu lugar, assumindo suas vidas profissionais de forma nunca antes imaginada. Vencer estas barreiras significa progresso feminino, desenvolvimento e cidadania, garantindo assim progresso não somente para elas, mas também para a sociedade como um todo.

Gisele Meter é empresária e diretora executiva de Recursos Humanos. Atua com gestão estratégica de pessoas, psicóloga, escreve sobre comportamento organizacional e liderança. Palestrante e consultora estratégica em gestão de pessoas e gestão da mudança organizacional.

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