Qual seu número?
Sinopse: Boston. Ally Darling (Anna Faris) fica horrorizada ao ler, em uma revista feminina, que as mulheres têm em média 10,5 parceiros sexuais ao longo da vida. Acreditando que o número é baixo demais, ela puxa da memória todos os homens com quem já transou e passa a investigar junto a amigas qual é o número delas. É quando percebe que já teve relações sexuais com 19 homens, um número bem acima das colegas. Para piorar ainda mais a situação, a matéria diz que as mulheres que tiveram 20 ou mais parceiros têm muito mais dificuldades para se casar. Logo, a saída para Ally é procurar seus ex-namorados para ver se, com o tempo, algum deles melhorou de forma que possa ser seu marido, já que desta forma não chegará à marca dos 20. Para cumprir a missão ela conta com a ajuda de Colin Shea (Chris Evans), seu vizinho mulherengo que tem habilidade para investigar outras pessoas. Em troca Ally passa a ajudá-lo a escapar das mulheres que leva para cama, que por vezes teimam em não ir embora tão logo a relação sexual termine.
Crítica: Fico imaginando o que diria Simone de Beauvoir ao saber que, na segunda década do século XXI, o argumento de um filme se baseie no problema que é uma mulher descobrir que já teve dezenove parceiros sexuais na vida e que se passar do vigésimo jamais poderá casar. O pior é constatar que o mote de Qual seu número?, filme dirigido por Mark Mylod, ter um fundo de verdade. Ainda somos uma sociedade machista. Pena que o filme não aprofunde isso e mantendo apenas um bobo roteiro exageradamente superficial.
Tudo começa quando, após um dia ruim, Ally Darling, vivida por Anna Faris, lê em uma reportagem de revista que a média de parceiros sexuais das mulheres é de 10,5. Neurótica, ela faz uma lista e descobre que já está quase com o dobro desse número. Para completar, uma amiga diz que leu em outra matéria que se a mulher passar de vinte parceiros sexuais na vida não conseguirá casar. Ally leva isso tão a sério que entra em parafuso ao descobrir que após exagerar na bebida chegou ao número 20. Quase pensando em virar celibatária, ela tem a brilhante idéia de reencontrar todos os seus exs para descobrir se não deixou passar o homem de sua vida em algum momento.
A trama se baseia apenas nisso. Atrapalhada e boba, Ally tem a ajuda de seu vizinho galinha para encontrar os ex-namorados. A jornada é tola, mas o ritmo é bom, com algumas piadas interessantes. O problema é que tudo se torna repetitivo, irreal ao extremo e, em determinado momento, óbvio. É possível traçar o destino de Ally com algumas informações. O que não dá para imaginar é que eles levariam tão a sério a questão dos números, chegando a ser ridículo em algumas resoluções.
Toda a concepção é estranha, porque não dá para saber até que ponto o filme se leva a sério ou é uma simples piada de mau gosto. Ally é daquelas personagens que não existe. Uma mulher que age como uma adolescente tola e acredita em tudo que lhe dizem. Insegura ao extremo, não consegue nem ajudar a irmã em um assunto bobo como os pais separados no casamento desta. O diretor Mark Mylod ajuda nos estereótipos, criando situações absurdas com os ex-namorados. A começar pelo flashback de cada um deles, exageradamente estranhos. Todos eles parecem saídos de um filme trash, um exageradamente gordo, outro a caricatura perfeita do nerd bobo, nem falar do esquisito mágico garçom. É difícil entender alguém que namore com tanta peça rara assim e que, com o tempo, eles tenham ficado tão melhores.
Enquanto isso, Chris Evans faz o tipo “estou nem aí”, cafajeste ao extremo, mas aos poucos se tornando o melhor amigo da moça. É interessante ver as dicas que ele vai dando da transformação de Ally, como sua vocação com as miniaturas, o seu jeito de se portar e as verdadeiras ambições na vida. Ao mesmo tempo em que ela não se importa que ele tenha uma relação sexual a cada dia com uma criatura diferente e depois se esconda em seu apartamento até que ela vá embora. Afinal, ela está em uma jornada para estacionar o número de parceiros, enquanto que ele aumenta sem culpas, isso a cada dia. Isso volta ao falado no início do texto sobre a visão machista de mundo. Homem pode tudo, mulher não pode nada. E em nenhum momento, eles citam esse fato.
Habituada a paródias, Anna Faris parece atuar aqui como uma paródia de si mesma. As caras e bocas se tornam frequentes e não se encaixam muito no pseudo papel de mocinha de uma comédia romântica. Ainda que sua química com Chris Evans funcione, vide as cenas em que saem juntos para curtir uma noite, seja no terraço, em uma quadra de basquete ou pulando de um ancoradouro. Mas, a maior parte da projeção parece que estamos em alguma sequência de Todo Mundo em Pânico. Não dá para levar sua personagem a sério.
Qual seu número? é daqueles filmes descartáveis, com umas poucas piadas e situações que funcionam, mas que no geral, nos faz perguntar o porquê de existir uma história assim. Com um roteiro frágil, exageros e interpretações razoáveis, nos faz torcer para que Hollywood melhore o nível de suas comédias.
Qual seu número? (What’s Your Number?: 2011 / EUA)
Com: Anna Faris, Chris Evans, Ari Graynor, Blythe Danner, Zachary Quinto.
Direção: Mark Mylod.
Duração: 106 min.
Gênero: Comédia Romântica.
Roteiro: Gabrielle Allan e Jennifer Crittenden.
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