Elas empreendedoras
As super-heroínas modernas!
Elas usam sutiã e não têm medo de alçarem voos cada vez mais altos.
O perfil da mulher empreendedora brasileira traçado por duas mulheres empreendedoras brasileiras.
Quase cem anos após o início das reivindicações pela igualdade de direitos por parte dos movimentos feministas (que originalmente buscavam conquistas políticas), o mundo observa uma ascensão feminina cada vez maior não só no poder público, mas também na esfera privada: a mulher do início do século XXI tem plena independência financeira e se coloca à frente da direção de grandes corporações. Motivada pela conquista de seu espaço na estrutura social e econômica, a mulher desenvolve um espírito cada vez mais empreendedor e que merece grande destaque.
O livro “Elas empreendedoras”, de Andrea Villas Boas e Bruna Villas Boas Diehl, vem justamente para colocar em evidência o papel da mulher que faz acontecer. A obra traz uma radiografia do perfil empreendedor da mulher brasileira, que atualmente representa metade da classe no país, e pretende contribuir para a visibilidade da atividade e para a formação de uma bibliografia específica que, segundo as autoras, ainda é escassa.
Mãe e filha e também empreendedoras, Villas Boas consideram que tanto mulheres quanto homens são terrenos igualmente férteis na atividade empreendedora, e as características próprias a cada gênero só vêm a acrescentar. O que realmente pode garantir o sucesso é o planejamento, o conhecimento pleno do mercado e cautela. Além disso, para as autoras, a escolha da mulher por ingressar nessa atividade é mais que uma decisão sobre a carreira, mas também uma reflexão sobre relações familiares e prioridades. São mulheres que, muitas vezes, buscam maior flexibilidade e qualidade de vida, conciliando trabalho e família. São Mulheres-Maravilha, que comandam seus lares e sua vida profissional e – quem sabe – até lutando contra o crime nas horas vagas.
Entrevista Empreendedorismo – Andrea Villas Boas e Bruna Villas Boas Diehl!!
1. Quando e como surgiu a vontade de escrever um livro sobre o perfil da mulher empreendedora no Brasil?
Em uma palestra do Mulheres em Ação, oferecida pela Bolsa de Valores de São Paulo, pediram ao Renato Bernhoef uma indicação de bibliografia focada em empreendedorismo feminino. Ele disse que infelizmente não existia literatura específica. Eu, Andréa, anotei e pensei, “meu segundo livro vai ser esse”. Em casa, comentei com meu marido e a minha filha e ela achou muito legal e interessante, e a partir disso passamos a ler e separar matérias relacionadas ao assunto. O interesse da Bruna pelo assunto foi imediato e, por isso, iniciamos o projeto a quatro mãos.
2. Qual é esse perfil? Quem é essa mulher empreendedora brasileira?
Segundo o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2010 temos 10,4 milhões de empreendedoras no país. Por esse extenso número, temos os mais diversos perfis de empreendedoras, desde a executiva que, após alguns anos no mercado, trocou uma carreira tradicional por um novo empreendimento, até a jovem que abre um negócio ao sair da faculdade, ou a mulher de poucos recursos que fornece alimentos preparados por ela.
3. Na opinião de vocês, o que diferencia as mulheres dos homens quando o assunto é empreendedorismo?
Com base em diversas pesquisas e em nossa experiência durante a elaboração do livro, percebemos que a mulher tem maior sensibilidade, facilidade de relacionamento interpessoal, percepção mais holística sobre o negócio e uma vantagem quando se trata de realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Esses aspectos são claramente refletidos nas políticas da empresa e no modo como se relacionam com clientes, funcionários e colaboradores. Já os homens se destacam pela objetividade, praticidade, facilidade para lidar com finanças e racionalidade.
4. O que é mais importante: saber lidar com pessoas ou com finanças? O que a mulher faz melhor?
É difícil definir qual fator é mais importante, a resposta sempre será “depende”… Na sociedade e época em que vivemos, desde muito jovens, as mulheres são incentivadas a desenvolver as características de relacionamento interpessoal e coletividade. Enquanto as meninas trocam receitas e alimentam suas bonecas, tudo coletivamente, o ambiente doméstico e a expectativa familiar estimulam os meninos a competir e desenvolver características como objetividade, racionalidade e facilidade para lidar com finanças para ser “o provedor” da família. Desse modo, a mulher normalmente tem mais facilidade em lidar com pessoas do que com finanças.
5. O fato de as mulheres serem mais comunicativas facilita no momento de abrir o próprio negócio?
O cérebro feminino é muito verbal e apto para a comunicação, um aspecto importante para a abertura de um negócio. Porém, como bem sabemos, há homens que se comunicam bem e mulheres que não. Por isso, para o sucesso de um negócio, acreditamos que as experiências anteriores, preparo e estudo são fatores mais determinantes do que o sexo.
6. Quais são as principais áreas de atividades com que as mulheres se identificam? Por quê?
Com base nos dados do Sebrae, podemos identificar forte presença das mulheres nos setores de confecção e vestuário, estética e beleza, alimentação e comércio varejista.
7. Que vantagens a mulher possui quando se lança aos negócios?
Acreditamos que mulheres e homens são terrenos igualmente férteis para o desenvolvimento da atividade empreendedora. Desde que recebam a mesma quantidade de adubo, água e sol, as duas sementes vão se desenvolver com a mesma força e a mesma qualidade.
Ao mesmo tempo que as mulheres têm características mais fortes como relação interpessoal e habilidade de realizar várias tarefas ao mesmo tempo, o homem tem maior objetividade e facilidade em lidar com as finanças. O segredo é cada um saber utilizar o que tem de melhor… Mulheres se aproveitarem de sua sensibilidade, por exemplo, ao invés de tentar assimilar comportamentos masculinos.
8. E desvantagens? Em algum momento faz diferença, para os negócios, o fato de ser mulher?
Mulheres têm destaque em alguns setores, mas também há indústrias muito masculinizadas, como a automobilística, por exemplo. Nesses casos, as mulheres podem enfrentar algum tipo de preconceito.
No livro, temos o depoimento de mulheres que estão a frente negócios tipicamente masculinos como um posto de gasolina e uma corretora de investimento. Apesar de eventuais dificuldades que tenham enfrentado, ambas conseguiram colocar seu ‘toque feminino’ no negócio e conquistar seu espaço.
9. Que erros, quando falamos de mulheres, podem ser fatais na abertura ou na condução de uma empresa?
Os principais erros na abertura ou na condução de uma empresa não dependem do sexo do empreendedor… Por mais que possam parecer aspectos básicos, alguns dos principais fatores que podem ser fatais para um negócio são falta de planejamento, desconhecimento do mercado, falta de reserva financeira e crescimento descontrolado (sim, a obsessão pela expansão a qualquer custo é um grande problema!).
10. Como tem sido a evolução feminina no mercado de trabalho, principalmente daquelas mulheres que se lançaram aos negócios próprios?
A mulher enfrentou muitos desafios ao entrar no mercado de trabalho, mas hoje vemos que grande parte das barreiras já foram ultrapassadas. As restrições, diferenças salariais e o preconceito já viraram exceção, não regra. O fato de termos uma presidente mulher eleita é um grande exemplo disso.
A mulher ampliou sua participação no mercado de trabalho e, consequentemente, na vida econômica do país. Hoje, elas ocupam 42% das vagas no mercado de trabalho e são responsáveis pelo sustento de 35% dos lares. Em relação ao empreendedorismo, o GEM realizado em 2010 confirma que “o Brasil é um país onde a presença feminina na criação e gestão de novos negócios é forte e constante”.
Segundo o Goldman Sachs, “pesquisas comprovaram que investir em mulheres beneficia toda a humanidade, por meio de um efeito multiplicador. (…) Mulheres mais prósperas levam a crianças mais educadas, famílias mais saudáveis e, por consequência, comunidades e nações mais prósperas também.” Esse fator demonstra a importância da participação da mulher, não somente para o sustento dos lares e fatores econômicos, mas também para todo o desenvolvimento da sociedade.
11. Quem são as empreendedoras de sucesso que são referência para vocês?
No livro citamos inúmeras empreendedoras que são referência para nós como e gostamos muito das entrevistas com Taciana Kalili (Brigaderia), Drª. Janete Vaz (Laboratórios Sabin de Brasília) entre outras e Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, que inclusive escreveu o prefácio. Com certeza admiramos os exemplos das grandes empreendedoras brasileiras, mas é importante ressaltar que também temos como referência as pequenas empreendedoras, que fizemos questão de retratar nos cases no livro.
12. Qual a melhor fase da vida de uma mulher para empreender?
Não há uma fase ou idade certa para a mulher empreender. O momento de empreender é simplesmente quando ela estiver pronta. Ao mesmo tempo que jovens têm por característica assumir riscos, um atributo indispensável à atividade empreendedora, quem decide empreender mais pra frente pode contar com maior experiência e networking. Um não é necessariamente melhor do que o outro.
Há um movimento batizado de “momtrepreneurship” nos Estados Unidos (empreendedorismo materno), que é de mulheres que decidem empreender após a maternidade na busca de maior flexibilidade e qualidade de vida para conciliar trabalho e família. Esse é um fato interessante que demonstra como o empreendedorismo não é somente uma decisão sobre carreira, e sim uma reflexão sobre prioridades, motivações, relações familiares…
13. Que dicas vocês dariam para esta mulher que está começando a empreender?
Não há uma receita mágica para ser um empreendedor de sucesso. Se houvesse, todos seriam, certo? Por isso, nosso conselho para quem quer empreender, é: leia, estude, busque informações, converse, reflita, e siga o que fizer sentido para você.
O empreendedor por oportunidade, que é aquele que cria uma empresa pela identificação de uma oportunidade de mercado, tem maiores chances de sucesso do que o empreendedor por necessidade, que inicia seu negócio por falta de opção. Com o tempo e a tranquilidade para se preparar, estudar sobre o assunto, conhecer o mercado, pensar nas finanças etc., com certeza os novos empreendedores terão mais chances sucesso!
14. O fato deste livro, que é um empreendimento, ter sido escrito por mãe e filha já representa uma característica própria do perfil feminino na hora de empreender?
Não somente pelo fato de sermos mãe e filha, mas pelo fato de escrevermos um livro em parceria, são exigidas as características de trabalho em equipe e sensibilidade.
15. Vocês são mulheres empreendedoras? Fale um pouco sobre vocês.
Andréa: Sou formada em Psicologia e, por 20 anos, atuei na área de Recursos Humanos em grandes empresas como Rhodia e Editora Abril e nos bancos Chase Manhattan, JP Morgan e ING Bank. Em 2005, aos 38 anos, iniciei minha jornada empreendedora abrindo a consultoria Mentes e Meios – Gestão Integrada de RH e Comunicação. Foi uma mudança radical, mas tenho a convicção de ter feito a escolha certa. Ser consultora me deu a liberdade para ser autora, coach profissional, consultora de RH e vice-presidente na produtora do meu marido.
Em 2010 lancei meu primeiro livro “Valor Feminino – Desperte a riqueza que há em você”, e agora lançamos o “Elas Empreendedoras”.
Bruna: Me formei em Comunicação social e hoje trabalho na área de marketing de uma multinacional. Não tenho um negócio próprio, mas escrever um livro sobre empreendedorismo e conhecer a trajetória das nossas entrevistadas com certeza é inspirador, é algo que considero para o futuro.
0 comments